Movimento mundial para a democracia, JCEspada, Expresso, 080412
Até há pouco tempo, a democracia era vista como ‘luxo dos países ricos’. A riqueza é agora vista como um luxo dos países democráticos |
Cerca de 500 pessoas, oriundas de mais de 100 países estiveram reunidas em Kiev, entre sábado e quinta-feira passadas, para discutir a situação da causa democrática no mundo global. Trata-se do chamado Movimento Mundial para a Democracia, uma rede não centralmente dirigida de indivíduos, ONG e instituições universitárias dedicadas à promoção ou simplesmente ao estudo do fenómeno democrático.
Victor Yushchenko, o célebre Presidente da Ucrânia que foi vítima de envenenamento, falou aos congressistas apresentando uma espécie de relatório sobre a jovem experiência democrática do país. Tributos à Coragem Democrática foram atribuídos à Comunidade de Juristas do Paquistão, aos jornalistas independentes da Somália e aos monges budistas da Birmânia.
Além das sessões protocolares, uma imensidade de painéis sobre temas específicos ou sobre regiões particulares do globo preencheram intensamente o programa de trabalhos. No último dia, reuniu o Luso Fórum para a Democracia, uma plataforma de democratas de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Brasil e Portugal.
O Movimento Mundial para a Democracia foi criado em 1999 em Nova Deli. Realizaram-se depois assembleias mundiais em São Paulo, Durban, Istambul e agora Kiev. Existe um «steering committee» com cerca de 32 elementos das várias regiões do globo, no qual Portugal tem estado representado desde o início. O Secretariado do movimento é garantido pelo National Endowment for Democracy, com sede em Washington, que fora criado pelo Presidente Ronald Reagan em 1981 - num célebre discurso proferido no Parlamento britânico perante a primeira-ministra Margaret Thatcher.
Desde a fundação em Nova Deli, um dos elementos mais tocantes destas assembleias é sem dúvida a variedade étnica, cultural e religiosa de centenas de delegados igualmente inspirados pelo ideal democrático. Muitos apresentam-se em trajes nacionais, vários falam apenas algumas palavras de inglês. Mas em todos é patente o compromisso com os ideais democráticos da não-violência, pluralismo, governo limitado, direitos humanos e redução da pobreza.
É um fenómeno realmente impressionante e, de certa forma, intrigante. Até há pouco tempo, a democracia era vista como ‘luxo dos países ricos’. A riqueza é agora vista como um luxo dos países democráticos. Testemunhando esta metamorfose, a União Europeia parece finalmente decidida a juntar-se à rede democrática global. Na próxima terça-feira, em Bruxelas, o presidente José Manuel Barroso assinalará a criação da European Foudantion for Democracy through Partnership. Será um sinal importante de que aqui tentarei dar conta no próximo sábado.
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