Avoila e sindicalistas insultam o Parlamento

Henrique Monteiro
Expresso, Sábado, 14 de dezembro de 2013

Um dos sinais da fraqueza da nossa democracia, ao contrário do que muitos auto-intitulados democratas julgam, é a incapacidade que demonstra a Assembleia da República em terminar com manifestações nas galerias do hemiciclo.
O último destes casos deu-se quando sindicalistas insultaram um secretário de Estado em pleno Parlamento. Não interessa tanto saber se o secretário de Estado merece ou não que o insultem. Interessa, acima de tudo, a ideia de que no Parlamento quem não é eleito não tem direito a manifestar-se, a falar, a exprimir o que pensa, a menos que para tal tenha sido convidado pelo próprio Parlamento.
Diz a notícia citada que entre os manifestantes - que conhecem perfeitamente as regras - estava Ana Avoila, a coordenadora da Frente Comum dos sindicatos da Função Pública, uma senhora que recebe o seu salário do Estado democrático e não se coíbe de insultar - não o secretário de Estado, porque esse é um cidadão qualquer, que lá está passageiramente -, mas a própria democracia, minando as suas regras persistentemente, até ser afastada pela polícia. Imaginem que eram manifestantes da extrema-direita a interromper um ministro do PCP... O que não se diria sobre os perigos para a democracia.
Não há direito! E aqueles que - concordando ou não com a política do Governo (a maioria não concordando, certamente) - acarinham a democracia e o Estado de Direito devem ser os primeiros a condenar estes atos. Os próprios deputados do PCP e do Bloco (e os do PS que nunca condenaram, pois alguns têm-no feito) deveriam eles próprios em nome da democracia, mandar calar os manifestantes. Ana Avoila, tal como eu ou qualquer outro cidadão com direito a voto tem representantes naquela casa. Todos os dirigentes sindicais têm deputados dispostos a falar das suas causas. Aproveitar o Parlamento como palco de manifestações é inconcebível e apenas contribui para o desprestígio de um órgão que - para lá das maiorias que gera, para lá das decisões que toma - devia ser tratado como o templo da nossa liberdade.
Mas há gente avessa às leis democráticas, apenas as utilizando a seu favor. Foi sempre assim que procederam fascistas e comunistas.

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