Previsões
João César das Neves
As previsões económicas sempre foram difíceis e erróneas. Mas existe nelas um enviesamento curioso: quem faz um prognóstico negativo tende a ser acreditado e, se o palpite der errado, as pessoas esquecem-no. Pelo contrário, quem apresenta uma conjectura risonha não só tem menos credibilidade mas, se falha, todos lhe ridicularizam a ingenuidade.
No Verão passado, os especialistas asseguraram que agora estaríamos com carências e fome em várias zonas do mundo devido ao alto preço da energia e alimentos. Essa antevisão falhou redondamente. Os preços caíram e não houve desastre. Mas quem fez esse prognóstico antecipa agora uma grave recessão por razões financeiras.
Surpreendentemente toda a gente volta a acreditar no negro vaticínio. Talvez pela mesma razão os analistas mais antigos, como Mário Soares ou George Soros, são também os que fazem antevisões mais catastróficas. Assim passam por sábios e prudentes.
O enviesamento nem sempre foi assim. Na euforia antes da crise quem avisava dos perigos era considerado pessimista inveterado, enquanto as expectativas mais fabulosas pareciam credíveis e sensatas. Aliás, o mercado em expansão confirmava essa avaliação. Até rebentar a bolha. Nos próximos tempos, o mercado parecerá confirmar os novos agoiros.
Aqueles que antes foram levados pelo clima de optimismo caem agora na mesma armadilha, só que de sinal contrário. Os excessos de euforia anteriores eram tão pouco justificados quanto o actual exagero no desespero. Infelizmente, as previsões brandas e equilibradas sempre terão pouca credibilidade.
João César das Neves | naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt
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