A LÓGICA CONTRA A EMOÇÃO

DN 20090212
Pedro Lomba
Jurista - pedro.lomba@eui.eu

Em Janeiro, um avião aterrou de emergência no Hudson, o rio de Nova Iorque. O incidente foi amplamente descrito na imprensa como um milagre, não houve mortos, nem feridos graves e o piloto da US Airways que aguentou o avião para fazer uma suave terraplanagem ao Hudson acabou transformado em herói. Eu estava em Nova Iorque nessa altura e vi que as televisões americanas acamparam à porta da casa do piloto. Ninguém escapou à entrevista, incluindo anónimos que o conheceram remotamente aos 13 anos e que já então imaginavam que ele fosse capaz do feito.

De tudo, um facto captou a minha atenção e não foi bem a perícia revelada pelo capitão Sullenberger, o nome do piloto. Nos relatos do acontecimento contou-se que o avião perdera os motores no ar e que o piloto, após contactos com a torre de controlo, decidiu que devia cair sobre o Hudson. Alternativas aparentemente havia: ou tentar um regresso ao aeroporto La Guardia de onde tinha saído ou, sobretudo, continuar até ao pequeno aeroporto de Teterboro, situado a poucas milhas da zona que o avião sobrevoava. Mergulhar no Hudson mostrou ser a decisão mais correcta, mas isso podemos dizer nós agora porque não houve vítimas. Será que o avião não conseguiria chegar a Teterboro? E se a queda tivesse sido um desastre?

Para nós é fácil - e inútil - especular. Já o capitão Sullenberger, em menos de cinco minutos, precisou de decidir entre dois riscos: uma improvável mas mais simples aterragem em Teterboro e uma possível mas imprevisível aterragem sobre o Hudson. Duas escolhas imperfeitas. Imaginem-se na cabeça do piloto que, mesmo treinado para quaisquer contingências, teve de tomar uma decisão como esta e acabou por se sair bem. Como é que ele decidiu, como é que ele chegou à melhor decisão?

Sim, como é que nós decidimos? Num livro recente (How we decide), o neurocientista Jonah Lehrer explica por que fazemos tudo ao contrário. São as decisões simples que pedem um pensamento racional, enquanto as decisões complicadas (por exemplo, comprar uma casa, deixar o marido) exigem um certo talento para o instinto. O importante é perceber quando se deve ser emocional e racional. Tenho um amigo meu que usa a seguinte técnica em momentos de apuro: quando não tem certezas óbvias sobre o que tem de decidir, decide logo para eliminar o problema.

Durante séculos, filósofos e cientistas presumiram a racionalidade das nossas decisões. Todo o ser humano ponderaria a probabilidade de custos e benefícios; uma má decisão seria uma decisão menos informada e mais emocional. Na verdade, isto está errado. Neurocientistas, psicólogos, economistas comportamentais, demonstraram que as nossas melhores decisões podem depender apenas de emoções, hormonas e hábitos.
E as fraquezas podem ser forças. |

Comentários

Mensagens populares deste blogue

OS JOVENS DE HOJE segundo Sócrates

Hino da Padroeira

O passeio de Santo António