A honra, não a glória

José Luís Nunes Martins
ionline 2015.0.31

A nossa existência é toda ela um conjunto enorme de surpresas, importa muito ter a capacidade de compreender que vivemos num mundo que nada nos deve… 
A minha honra não depende da opinião dos outros. É uma qualidade pessoal que me diz respeito apenas a mim. Funda-se nas minhas ações e apenas delas depende. Posso honrar alguém, mas não posso contribuir para a sua honra, senão através do meu exemplo.

O mérito que resulta do exercício das virtudes (e dos deveres) não é algo que obtenha sempre a estima ou a admiração alheias, muitas vezes o resultado é mesmo o oposto: indiferença e desprezo. Poucos se dão bem com quem faz o que eles não fazem, mas deviam.

Quem espera o reconhecimento da multidão vive num plano onde nada é o que parece, nem mesmo a admiração. Para a multidão, hoje, as aparências valem muito mais do que a verdade.

Por vezes, em contexto formal, referimo-nos a outros utilizando a fórmula Vossa Excelência, no entanto, a maioria de nós não faz a mais pequena ideia da verdadeira excelência dessa pessoa, do que será capaz, se é honrada ou… se já não o é.  

É compreensível que desejemos ser tidos em boa conta pelos nossos semelhantes e pelos que nos estão mais próximos, queremos merecer a sua estima e estar à altura da dignidade da sua atenção. Mas é essencial buscar sempre a honra, nunca as honras.

Ser responsável passa por ter sempre presentes os fundamentos do que escolhemos ser, as respostas para as perguntas sobre o porquê e o para quê das nossas decisões… devemos ser inteiros e consistentes. Ainda que isso nos custe o sacrifício da reprovação pelas opiniões alheias.

A honra é a prática da virtude, não é uma vaidade. Trata-se de algo que se conquista com muita dificuldade, mas que se pode perder com a maior das facilidades. Cabe a cada um de nós erguer e zelar pela sua honra. Sabendo que a nossa simples existência é, em si mesma, um prémio enorme, que se constitui como um pilar fundamental de uma dignidade que não está dependente de mais ninguém. Manter a honra de combatermos por ser quem melhor podemos e devemos ser é mais importante do que conquistar as mais ilustres glórias mundanas.

Por vezes a honra é ferida. Basta uma simples desatenção e o dano pode ser trágico…. mas, ainda assim, cumpre a quem a perdeu lutar pela sua reconquista. Restabelecendo o que é. Alcançando o que pode. Chegando a ser tudo quanto deve.

A honra de alguém vale mais do que qualquer fama. Resulta da vontade de exercer os seus talentos e cumprir o dever de ser virtuoso, num mundo onde as modas, regras e prémios não estão alinhados com a verdadeira excelência.

A reputação, as vénias e as vaias são sempre realidades passageiras, o mundo dá-as e tira-as, numa lógica infantil que não é senão um jogo de humores superficiais, momentâneos e sem qualquer fundamento profundo.

A nossa existência é toda ela um conjunto enorme de surpresas, importa muito ter a capacidade de compreender que vivemos num mundo que nada nos deve…

A atitude correta perante a vida é a da humildade absoluta... o que somos e tudo quanto temos são dádivas puras, que nos chegam sem que se espere nada em troca... ser capaz de usufruir delas, aceitando a sua completa impermanência, é ver a vida à luz da verdade.

Que em cada um dos nossos dias não falte o agradecimento e a súplica.

Nas minhas noites mais escuras, que eu não esqueça que a minha maior honra é ser quem sou e poder retribuir a gratuitidade deste dom da vida, sendo dádiva na vida de outros.

A existência é uma esmola. Um dom imerecido. Que será apenas para quem o souber acolher e fortificar… com verdade e honra… mas sem garantia nenhuma.


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