Pobre Wikipedia

Público 2011-01-16 Miguel Esteves Cardoso

A Wikipedia fez anos. Que conte muitos. Pergunta-se se é fiável ou não. Se acerta mais vezes do que erra. Se é bom. Mas não é essa a melhor pergunta. É natural que as pessoas educadas gostem da Wikipedia, porque têm muitas outras fontes, muito mais fidedignas, às quais recorrem - até para saber onde é que a Wikipedia falhou.

Em 1978, Brian Chapman, que foi meu tutor na Universidade de Manchester, desentusiasmou-me sabiamente dos meus excessos de estudo, dizendo-me que uma educação universitária consistia em, número um, ensinar-nos "how to look things up" e, número dois, em "how to look at the things you"ve looked up".

É intraduzível e isto diz muito sobre a cultura portuguesa, em que as bibliotecas sérias são fechadas e os livros têm de ser requisitados, não sendo permitido que se deambule livremente pelas estantes, tirando, para levar para casa durante o tempo que for preciso, os livros que quisermos, com um limite generoso de 10 ou de 20.

Por isso associo sempre livros, livres e liberdade. "To look up" é, ridiculamente, "consultar". É "ir ver" aos livros. Não tem o sentido de encontrar e descobrir (um tesouro) que tem "look up".

Ai de quem dependa só da Wikipedia, por muito bom que seja (ainda é uma semimerda). Ai de quem não souber como verificar se é ou não. E, sobretudo, ai de quem não tiver, em livros ou online (embora só 5 por cento dos livros estejam online), maneira de se safar sem a Wikipedia. É essa a pobreza.

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