O sentido da vida e a vida com sentido

Isilda Pegado
A Voz da Verdade, 2011-01-09

A vida humana terá certamente muitas formas de ser definida, consoante a perspectiva de estudo que sobre ela se faça (biológica, filosófica, ética, sociológica etc.). Porem, para o homem comum a vida é um processo orgânico em permanente movimento, com diversos complementos e finalidades que faz gerar uma capacidade de ser e de actuar. A vida humana tem uma origem e um destino. É por isso o Bem mais Nobre de toda a existência.
Para as nossas sociedades a Vida parecia ter adquirido já um valor em si inscrito que não admitia a sua instrumentalização – é aliás o fundamento último do Estado de Direito que os totalitarismos do séc. XX  fizeram evidenciar.
Porém, os debates que hoje se geram na opinião pública sobre o “sentido da vida” e o “ sentido da morte” tendem a fugir à essência da vida. Muitas vezes a vida aparece como um conceito utilitarista não só para o indivíduo (vale a pena viver enquanto tiver “qualidade de vida”) como também para as sociedades (utilitarismo produtivista). Acresce que a vida gera inevitavelmente a morte. Ora, se a morte for esvaziada de sentido conduz necessariamente a duas atitudes – por um lado é ignorada, banida da consciência, da cultura e sobretudo excluída da verdade o valor da existência humana; por outro lado, antecipa-se a morte para fugir ao encontro com a consciência.
Seguir por este caminho é, em última instância dar azo não só ao egocentrismo, mas também entregar o valor da vida a quem tem mais Poder. Ora, a “razão” para viver, não está nos meios de que dispomos mas, esta razão, antecede qualquer Ser Humano. O primeiro bem do Ser Humano está no reconhecer da sua própria dignidade. Por isso, a vida não se reduz a qualquer das suas dimensões (saúde, autonomia, poder), muito menos ao conceito de “qualidade de vida” na medida em que toda a vida contém em si uma qualidade, um valor. Toda a vida tem uma qualidade mas esta sozinha não define a vida.
Por isso, uma sociedade solidária tem o supremo dever de olhar para o que está mais frágil (início e fim da vida) e encontrar aí o grande desafio civilizacional do respeito pelo Humano.
Ao longo da história temos visto que quanto mais a consciência de si e desse valor têm crescido, tanto mais tem sido o empenho na Assistência, no desenvolvimento das ciências médicas, das tecnologias e de todas as áreas do saber com elas conexas. Tem sido uma ventura (as inúmeras curas conseguidas) de que o homem se deve orgulhar em especial destes últimos séculos. Mas para que haja saúde é necessário que haja vida e não o contrário. A saúde é um bem da pessoa, a saúde não é “o bem”.
Desta dignidade nasce uma obrigação moral imposta a todo o indivíduo que comporta o dever de cuidar do seu próprio corpo e também daqueles que disso carecem. Esta obrigação tem o limite natural da própria vida, que não se compadece com processos cujo objectivo seja unicamente o prolongamento da vida.
Tudo isto exige uma educação e preparação do indivíduo e da sociedade, que se faz no dia-a-dia. O homem torna-se mais homem se aceitar as perguntas da sua existência. Viver com o tabu do sofrimento e da morte é negar dimensões essenciais à dignidade do humano.
É curioso verificar que hoje falar publicamente da morte é tabu tal como em tempos existiu o tabu do “sexo”. Como diz um autor Francês (Ariès, P. “La Mort Inversée”) “no século XX a morte tomou o lugar do sexo como principal interdição”. Antigamente, dizia-se às crianças que vinham numa cegonha para nascer, e assistiam à cabeceira do avô que estava a falecer no quarto. Hoje, desde a mais tenra idade tudo é ensinado sobre sexo, e o avô morre longe e diz-se que foi fazer “uma grande viagem” ou que está a “descansar num jardim”.
A vida com sentido pode levar ao sentido da vida.






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