Interpretar um texto no tempo de Facebook

Paula Ferreira
JN 20110105 00h34m
Quem ainda ficou surpreendido com os resultados dos exames intermédios dos alunos portugueses, provavelmente não se relaciona com professores ou não tem filhos a frequentar o terceiro ciclo do ensino básico. Os outros, receberam os resultados com normalidade. Alunos que não sabem estruturar um texto, ler e raciocinar é a realidade das nossas escolas.
No meio da desgraça estudantil, uma coisa não se percebe. Como é que estes alunos, semi-analfabetos, transitam de ano? Chegar ao 10º ano do ramo de humanidades e deparar com jovens incapazes de intrepretar um texto, ou de dar uma resposta correcta, do ponto de vista gramatical e da sintaxe, é deveras preocupante.
E enganem-se os que pensam e actuam como se o drama de desconhecer a Língua materna fosse exclusivo dos chamados alunos de Letras. Os de Ciências, esses que consideram inútil o português na sua formação, estão redondamente equivocados. Como o relatório dos últimos exames intermédios, publicados pelo Gabinete de Avaliação Educacional do Ministério da Educação, deixa claro: os maus resultados a Matemática e a Biologia, decorrem, não em exclusivo, mas também, do facto de os meninos e meninas que sonham ser cientistas, não conseguirem perceber um enunciado. Nos casos em que o conseguem entender as perguntas, são incapazes de redigir uma resposta bem estruturada - clara e perceptível, portanto.
Não se iludam, portanto, os que vêem nos resultados do PISA 2009 a salvação do nosso sistema de ensino. Houve progressos inegáveis. Os esforços de Maria de Lurdes Rodrigues não foram em vão. Há, porém, ainda um longo caminho a percorrer. O PISA diz-nos somente que não estamos tão mal como antes. Estamos ainda mal, como agora se viu.
Espanta a ineficácia de tantas aulas semanais de presença na escola. Para quê? Não consegue a escola cativar os mais novos? Parece que não. Numa sociedade da instantaneidade, dos SMS, Youtube e Facebook, como pode um modelo com aulas de 90 minutos prender a atenção de mentes cada vez mais preguiçosas e voláteis? Esse é o grande desafio.
Maria de Lurdes Rodrigues mostrou seguir o bom caminho. Inverter ou parar a marcha, acomodando-se ao facilitismo, pode ser perigoso.

Comentários

Anónimo disse…
Como em tudo, a generalização peca por não dizer senão uma parte da verdade. Há alunos excelentes, na Língua Portuguesa e nas outras matérias. Eu conheço muitos, acredito neles e trabalho há mais de vinte anos numa escola de um meio rural bastante desfavorecido. Muitos são melhores estudantes do que o que eu era com a mesma idade (e fiz os exames do 12ºano - não me recordo se tinha a mesma designação na altura, há vinte e tal anos - com média de 18 valores).
Mas é inevitável: desde os Antigos Gregos e talvez desde sempre, há o hábito (que não leva a nada de construtivo) de dizer mal das gerações mais jovens - o que é ofensivo para muitos jovens excelentes em todos os aspectos escolares e da vida.Se lermos alguns textos desses tempos passados, poderemos ver as semelhanças gritantes entre eles. A maior parte é tão semelhante aos que hoje falam dos mais novos que, se retirássemos o autor e o ano, não saberíamos em que época foram escritos.
Basta pensarmos um pouquinho: verificamos que os mais velhos, os que têm agora a minha idade (quase cinquenta) e mais, são as "vedetas das notícias", os verdadeiros responsáveis por muito do que de "triste" ouvimos nos telejornais de hoje em dia - abusos e burlas de toda a espécie, falta de valores e de princípios, para não dizer, tendências criminosas...
E o que existe de bom nas escolas e nos alunos, com toda a certeza, não se deve aos Governos e, ainda menos, aos últimos responsáveis pela Educação neste País - desajeitados em todas as medidas, ideologicamente tendenciosos no pior sentido, desrespeitadores dos cidadãos que trabalham, "fabricadores" de estatísticas e de números (até de diplomas, talvez), mas incapazes de gerar qualidade.
Desculpe a minha opinião tão severa, mas estou a repetir, exactamente, o que digo a muitos dos meus melhores amigos e colegas professores. Porque tenho muitas provas de que não devemos fazer esta crítica "light" (e que obedece a um costume rotineiro deste a Antiguidade) aos mais jovens ou este "louvor" injusto aos mais velhos.

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