Perseguição
João César das Neves
DESTAK | 28 | 05 | 2009 08.26H
Existe uma regra simples que se deve sempre usar na busca pela justiça social: quando se ouve alguém denunciar violentamente uma perseguição é bom ver quem ele, com isso, pretende perseguir. Este princípio resulta de dois factos simples. Primeiro, os verdadeiros perseguidos raramente têm voz; por isso não são eles que estão a falar.
Segundo, a maior parte dos ataques foram sempre justificados como retribuição por anteriores agravos. As coisas raramente são simples, separadas em bom e mau e todos têm culpas. A denúncia brutal de alguém costuma ser uma mera preparação para o agredir.
Foram os alegados atentados a alemães nos Sudetas e Danzig que justificaram a intervenção de Hitler na Checoslováquia e a invasão da Polónia. Quando os historiadores positivistas começaram a escrever a história da Inquisição e das Cruzadas, a finalidade não era reparar esses antigos crimes, mas preparar a mais terrível perseguição de sempre à Igreja Católica.
Hoje fala-se muito de terroristas e fundamentalistas islâmicos, mas é o Afeganistão e o Iraque que estão a ser bombardeados. Foi em nome da dignidade das mulheres supostamente presas que se justificou a promoção do aborto, o maior genocídio da actualidade. A defesa dos homossexuais discriminados acaba em ataques à família e à religião e muitos esforços na protecção do ambiente não passam de formas de extorsão a empresas.
É sempre boa ideia ver quem são aqueles que a opinião pública do momento denuncia como agressores e perseguidores. Esses serão, em contraposição, aqueles a que a sociedade se prepara para atacar.
João César das Neves | naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt
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M. Lima