O espírito de um povo

O espírito de um povo

João César das Neves

DN, 20090513

Portugal divergiu da revolução até à entrada, voltou a convergir bem durante dez anos, mas diverge desde 1999

Na União Europeia dá-se grande atenção à convergência ou divergência de crescimento, pois cada um se compara instintivamente com a média do grupo. A história mostra que aí não há padrões claro, passando os países por fases distintas.

A Irlanda, com crescimento anémico nas primeiras décadas de participação na CEE, começou intensa convergência que levou de segundo país mais pobre dos quinze, a seguir a Portugal, para segundo mais rico, abaixo do Luxemburgo, apesar de ter divergido nos últimos três anos. A Espanha divergiu de 1975 até entrar em 1986 e convergiu depois até 2007. A Grécia, que foi estrela de convergência até entrar na Europa, caiu de 1981 até 1999, começando a subir desde então. Portugal, que convergira muito até 1973 e divergira da revolução à entrada na CEE, voltou a convergir bem durante dez anos mas diverge desde 1999.

Por que razão há fases diferentes? A causa é estrutural e profunda, não tem a ver com ciclos ou problemas sectoriais. Trata-se de fenómenos complexos, que afectam todo o espírito de um povo. Sempre se soube que as comunidades humanas passam por épocas de energia, esforço e optimismo e períodos de apatia, comodismo e conflitos. Essas evoluções civilizacionais traduzem-se na dinâmica económica.

Não é difícil explicar porque as coisas correm mal. O que é difícil é explicar o sucesso. Basta olhar à volta em Portugal para encontrar razões de paralisia, oportunismo e parasitismo. O que é preciso, como nas épocas anteriores, é quebrar esses bloqueios e gerar nova era de ânimo.

João César das Neves

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