A calada é a pior?

Henrique Monteiro
Expresso, 23 de Ago de 2008


Entre o ruído das críticas de Ângelo Correia ou de Alberto João Jardim (que anunciou pela enésima vez a fundação de um novo partido) - e sob o silêncio da própria Ferreira Leite -, o Presidente da República vetou a lei do divórcio, uma das que a líder do PSD disse que revogaria caso fosse primeira-ministra.

Para quem é tão criticada por falar pouco, diga-se que sobre este assunto concreto Manuela Ferreira Leite falou o suficiente. Disse o que pensava e mostrou uma vez mais a perfeita consonância com Cavaco Silva.

O veto presidencial, aliás, é de natureza totalmente ideológica, como não se cansam de repetir aqueles que o criticam. Mas também a lei agora vetada é totalmente ideológica. Na verdade, a esquerda acha o divórcio (como termina metade dos casamentos em Portugal) um mero direito, um acto banal.

A questão está, pois, em saber se aquilo que se tornou prática corrente deve ser facilitado pela lei. É uma discussão antiga e interessante.

Por mim não tenho sobre este assunto uma opinião firme. Por um lado, parece-me que um divórcio não necessita de atribuição de culpa (a grande maioria resulta, aliás, de mútuo consentimento); por outro, o aumento exponencial dos divórcios a que temos assistido, tem sido - e isto os grandes defensores da lei não gostam de ouvir - uma via rápida para a pobreza e para a exclusão. Porque, terminada a economia de escala que um casamento e uma família permite, não raro existem quedas abruptas de qualidade de vida, sobretudo para o cônjuge (normalmente a mulher) que fica com a guarda dos filhos do casal.

Ou seja, nem me parece que a culpa seja fundamental, como parece defender a direita clássica, nem me parece que o divórcio, como pretende a esquerda, deva ser facilitado, como se não fosse mais do que um acto notarial sem qualquer valor envolvido.

Por mim, e mesmo não concordando com a substância do veto, agradeço que haja quem, como Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite, ponha travão a estas e outras facilidades 'modernas' do Governo em matéria de política de família. Boa parte destas políticas são armadilhas de engenharia social, ditadas por modas e receitas que as mais das vezes nada têm a ver com a realidade

O contributo da direita interpela cada um de nós, inquieta-nos e leva-nos a pensar.

Mesmo com o silêncio de Manuela que, como prometeu, não sugere soluções apenas faz críticas, saltam à vista mais diferenças entre o PSD e o PS do que há uns tempos. Para Sócrates, a líder da oposição é a ilustração do provérbio 'a calada é a pior'.

Henrique Monteiro

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