Socialistas católicos

Maria Valentina Machado

Semanário, 20080813

A notícia da existência dos "socialistas católicos" surgiu a público, com a tomada de posição assumida pelo grupo, através do seu líder, contra a renovada bandeira da JS, também reiterada pelo seu novo líder, de que continuarão a lutar pela legalização do casamento entre homossexuais.
Através de uma notícia veiculada pela Lusa, tomei conhecimento da existência de um grupo dentro do Partido Socialista denominado de "socialistas católicos", que pretende demonstrar que se pode ser socialista sem se ser ateu ou agnóstico, que se pode ser socialista e defender os princípios cristãos e católicos, para a sociedade portuguesa moderna. A existência de tal grupo, devidamente organizado e estruturado no seio do PS, é uma esperança para se conseguir a não aprovação de medidas aberrantes e também para que se ponha fim à constante provocação contra a Igreja Católica que, quer se queira quer não, enquadra a maioria dos portugueses.Com efeito, penso que ser socialista católico é diferente de ser católico socialista, pois aqueles podem e devem ter influência na estrutura do PS e, consequentemente, no estabelecimento das respectivas estratégias e tomadas de decisão, enquanto os segundos não têm voz activa dentro da estrutura partidária a que pertencem ou não, concordando ou reprovando as medidas que forem tomadas, restando-lhes, no máximo, abandonar não as ideias mas as práticas socialistas, afastando-se e até deixando de votar na respectiva força política.A notícia da existência dos "socialistas católicos" surgiu a público, com a tomada de posição assumida pelo grupo, através do seu líder, contra a renovada bandeira da JS, também reiterada pelo seu novo líder, de que continuarão a lutar pela legalização do casamento entre homossexuais. Cláudio Anaia que, para além de ser o líder dos socialistas católicos, é também sócio honorário da JS, devido aos serviços prestados àquela organização de juventude, afirma, claramente, que tal proposta não é apenas fracturante no seio do PS, mas até entre aqueles que, de uma forma ou de outra, o apoiam, mas sim uma proposta aberrante, porque contrária aos valores sociais e morais, pois o casamento, mesmo no campo meramente civil, é uma instituição básica da sociedade, celebrada entre pessoas de sexo diferente, e está "indissociavelmente ligado à constituição da família, onde possam existir filhos com pai e mãe".O casamento é pois um compromisso público assumido entre um homem e uma mulher, com a finalidade de constituir uma família, célula básica da sociedade. Nas uniões de facto, não existe o compromisso público e social e essa circunstância é uma das razões, em meu entender, pelas quais estas e aquele não podem nem devem ser tratados da mesma forma. E isto não é discriminação, mas sim as consequências de actos voluntariamente assumidos. E quando se procura dar o mesmo estatuto a um e a outra, está-se a ferir, quando não aniquilar, o valor do casamento como forma única de constituir família, célula básica da sociedade.Cláudio Anaia afirma ainda que não põe em causa aqueles que defendem os "legítimos interesses de pessoas homossexuais que vivam juntas, mas não se chame a isso de casamento e muito menos com crianças à mistura". Nem de casamento nem de família, acrescento eu. Para Cláudio Anaia tais legítimos interesses serão garantidos pelo reconhecimento de uma união de facto, mas nunca através de casamento. E nunca, espera-se, entregando crianças a tais situações. Todos sabemos que o desenvolvimento de uma criança carece da existência da figura masculina do pai e da feminina da mãe. Todos sabemos as consequências para o desenvolvimento das crianças quando se não verifica a presença dessas duas figuras, pelo que seria igualmente aberrante consentir na adopção de crianças por parceiros homossexuais. Haja bom senso!E Cláudio Anaia afirma ainda que, se é verdade que o Estado se não deve intrometer na esfera privada dos cidadãos, também é verdade que lhe compete fazer respeitar as leis imanentes do poder legislativo mas também as leis naturais e sociais, sob pena de se passar "a viver sob uma ditadura do relativismo em que tudo é permitido e nada proibido", pondo em risco os limites da vida em sociedade. E pergunta, de seguida, por que não o casamento incestuoso ou a poligamia e, no domínio do sexo, qual será realmente o limite? A existência dos socialistas católicos é, pois, uma luz de esperança para que impere a defesa dos valores que enformam a sociedade portuguesa e também para que haja bom senso.Mas uma esperança mitigada, dado o embuste que foi o processo da despenalização do aborto, para a qual o povo português foi consultado e que, na prática, se tornou rapidamente na legalização e promoção do aborto.No que respeita às relações entre o Governo, hoje de maioria socialista, e a Igreja Católica, também seria muito vantajoso que o referido Grupo conseguisse, em primeiro lugar, que a regulamentação da Concordata celebrada entre a Santa Sé e o Estado Português, fosse considerada e feita de uma vez por todas, a fim de evitar, não apenas o vazio, mas também que pusesse cobro aos ataques, mais ou menos encapotados, que a acção da Igreja vem sofrendo. Acordada e publicada a referida regulamentação, ficariam devidamente estabelecidas as respectivas fronteiras. Não se vê motivo para o adiamento sistemático de tal regulamentação, a não ser que o Governo prefira não estabelecer regras escritas para, constantemente, levar a cabo uma política de confronto encapotado. Ou então, que não queira desagradar à maioria de ateus, agnósticos ou maçónicos socialistas. Será que o PS, que mereceu a confiança da maioria absoluta dos eleitores, quererá defraudar essa confiança e deixar para outros a tal regulamentação? É bom que o PS não esqueça que um estudo, recentemente divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística, revelou que 90% dos portugueses se reclamam de católicos.Um aspecto que gostaria de ver devidamente esclarecido é o que verdadeiramente se passa com a assistência religiosa nos hospitais pois, muito recentemente, fui informada de que subsiste a proibição dos capelães visitarem as enfermarias diariamente, como sempre aconteceu, mas que estão limitados a só poderem comparecer quando solicitados. Soube ainda que essa acção religiosa é discretamente desempenhada pelos voluntários que funcionam assim como ponte entre o capelão e o doente. Se assim é, estamos na presença de um desaforo e será bom que o povo seja devidamente esclarecido pelas partes envolvidas - Governo e Igreja -, pois o silêncio é, neste caso, muito inconveniente.E o que se passa com as aulas de educação religiosa nas Escolas? É que, depois da celeuma da retirada dos crucifixos das salas de aula, não voltou a haver noticia sobre tal situação. O povo português, em geral, tem o direito de ser esclarecido. Os católicos socialistas, de uma maneira especial, têm esse mesmo direito, para saberem a quem, daqui por um ano, deverão escolher para governar o País.Docente da ULHT

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