Ainda a invasão da Geórgia
Expresso, 20080830
João Carlos Espada
jcespada@netcabo.pt
Vale a pena contrastar a simpatia pela Rússia da nossa opinião publicada com a condenação unânime da Rússia que se registou em Inglaterra e nos EUA, bem como no conjunto da Europa
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É um verdadeiro mistério psicossociológico o tom dominante das reacções caseiras à invasão da Geórgia pela Rússia. Com honrosas excepções, a regra foi a de culpar o Ocidente, o neoliberalismo, o neoconservadorismo, o Presidente Bush e por aí adiante. Vale a pena contrastar este espectáculo com a sintonia que se registou imediatamente em Inglaterra e nos EUA, bem como no conjunto da Europa.
Logo a 11 de Agosto, o ‘Telegraph’ de Londres publicava um artigo do deputado trabalhista (note-se, trabalhista) Denis MacShane, intitulado ‘Devemos unir-nos para resistir à agressão russa’. O articulista argumenta que “o conflito com a Geórgia não será o último na tentativa de Putin de restaurar o império soviético”. E, citando Churchill (que era um conservador), condena as hesitações actuais de alguns sectores conservadores face à Rússia.
Na passada terça-feira, 26 de Agosto, o mesmo jornal publicava um artigo conjunto do líder da Oposição conservadora britânica, David Cameron, e do primeiro-ministro checo, Mirek Topolánek. Sob o título ‘A Rússia não pode limitar a liberdade dos seus vizinhos’, os autores sublinham que “a Rússia aspira a dividir as nações europeias e a comunidade transatlântica... É essencial que permaneçamos unidos nos dias e meses que se aproximam”.
Na América, os dois candidatos presidenciais reagiram em uníssono, condenando a invasão russa, após uma leve hesitação inicial do senador Obama. Na quarta-feira passada, 27 de Agosto, ‘The Wall Street Journal’ publicou um artigo conjunto dos senadores Lindsey Graham (republicano) e Joe Lieberman (democrata independente).
Escrevendo após uma visita à Geórgia, Ucrânia e Polónia, os dois senadores argumentam que não está apenas em causa “uma agressão a um pequeno e longínquo país na fronteira Leste da Europa”. Está em causa “um desafio à ordem política e aos valores de todo o continente europeu”. Recordam que os únicos países que apoiaram a Rússia foram Cuba e a Bielorrússia, esta após um silêncio inicial. Isto ilustra o isolamento internacional da opção russa pelo confronto com o Ocidente.
Esse isolamento parece ter excepção entre a nossa opinião publicada. Valeria a pena meditar sobre as razões desta excepção. Mas talvez elas sejam demasiado desagradáveis. Resta-me voltar a citar os senadores Graham e Lieberman: “a palavra de ordem para o Ocidente deve ser solidariedade: (…) solidariedade com os nossos aliados na região e, acima de tudo, com os valores que dão sentido à nossa comunidade transatlântica de democracias e à nossa visão de um continente europeu que é um todo, livre e em paz”.
João Carlos Espada
jcespada@netcabo.pt
Vale a pena contrastar a simpatia pela Rússia da nossa opinião publicada com a condenação unânime da Rússia que se registou em Inglaterra e nos EUA, bem como no conjunto da Europa
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É um verdadeiro mistério psicossociológico o tom dominante das reacções caseiras à invasão da Geórgia pela Rússia. Com honrosas excepções, a regra foi a de culpar o Ocidente, o neoliberalismo, o neoconservadorismo, o Presidente Bush e por aí adiante. Vale a pena contrastar este espectáculo com a sintonia que se registou imediatamente em Inglaterra e nos EUA, bem como no conjunto da Europa.
Logo a 11 de Agosto, o ‘Telegraph’ de Londres publicava um artigo do deputado trabalhista (note-se, trabalhista) Denis MacShane, intitulado ‘Devemos unir-nos para resistir à agressão russa’. O articulista argumenta que “o conflito com a Geórgia não será o último na tentativa de Putin de restaurar o império soviético”. E, citando Churchill (que era um conservador), condena as hesitações actuais de alguns sectores conservadores face à Rússia.
Na passada terça-feira, 26 de Agosto, o mesmo jornal publicava um artigo conjunto do líder da Oposição conservadora britânica, David Cameron, e do primeiro-ministro checo, Mirek Topolánek. Sob o título ‘A Rússia não pode limitar a liberdade dos seus vizinhos’, os autores sublinham que “a Rússia aspira a dividir as nações europeias e a comunidade transatlântica... É essencial que permaneçamos unidos nos dias e meses que se aproximam”.
Na América, os dois candidatos presidenciais reagiram em uníssono, condenando a invasão russa, após uma leve hesitação inicial do senador Obama. Na quarta-feira passada, 27 de Agosto, ‘The Wall Street Journal’ publicou um artigo conjunto dos senadores Lindsey Graham (republicano) e Joe Lieberman (democrata independente).
Escrevendo após uma visita à Geórgia, Ucrânia e Polónia, os dois senadores argumentam que não está apenas em causa “uma agressão a um pequeno e longínquo país na fronteira Leste da Europa”. Está em causa “um desafio à ordem política e aos valores de todo o continente europeu”. Recordam que os únicos países que apoiaram a Rússia foram Cuba e a Bielorrússia, esta após um silêncio inicial. Isto ilustra o isolamento internacional da opção russa pelo confronto com o Ocidente.
Esse isolamento parece ter excepção entre a nossa opinião publicada. Valeria a pena meditar sobre as razões desta excepção. Mas talvez elas sejam demasiado desagradáveis. Resta-me voltar a citar os senadores Graham e Lieberman: “a palavra de ordem para o Ocidente deve ser solidariedade: (…) solidariedade com os nossos aliados na região e, acima de tudo, com os valores que dão sentido à nossa comunidade transatlântica de democracias e à nossa visão de um continente europeu que é um todo, livre e em paz”.
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