O professor Gentil Martins e a pequena comissária política
JOSÉ MARIA DUQUE WWW.NÓSOSPOUCOS.BLOGSPOT.PT 17.07.17
Elogiar o Professor Gentil Martins é uma tarefa fácil. A sua vida é tão preenchida, tão extraordinária, que qualquer pequena pesquisa no Google nos permite coleccionar factos suficientes para exemplificar a sua excepcionalidade.
Cirugião pediátrico de excelência, participou em mais de 12 mil intervenções cirúgicas. Foi director de serviço de Cirurgia Pediátrica do Hospital da Estefânia durante 34 anos. Fez 7 operações para separar gémeos siameses. Escreveu artigos científicos e proferiu conferências um pouco por todo o mundo. Foi bastonário da Ordem dos Médicos e presidente da Associação Médica Mundial. Criou a primeira Unidade Multidisciplinar de Oncologia Pediátrica a nível mundial no IPO de Lisboa.
Como se a sua carreira médica não fosse suficiente ajudou a fundar ou apoiou várias organizações de apoio social como a ACREDITAR ou a CAVITOP. Foi atleta de várias modalidades, chegado a representar Portugal nos Jogos Olímpicos.
Teve e tem uma forte intervenção cívica. Foi uma das vozes mais sonantes contra o aborto, manifestou-se sempre contras as barrigas de aluguer e ainda este ano foi o promotor da carta que os cinco antigos bastonários da Ordem dos Médicos escreveram contra a eutanásia.
Aos 86 anos continua a trabalhar sempre disposto a servir o bem comum. E com toda a humildade. Vale a pena contar uma pequena história: no primeiro Prós e Contras sobre o aborto foram mobilizados apoiantes dos dois lados para ir assistir ao programa. O Professor Gentil Martins foi um dos que foi, tendo-se sentado no meio do público. Só após grande insistência da Fátima Campos Ferreira é que aceitou ir para a primeira fila e falar.
Esta fim-de-semana o Professor Gentil Martins foi entrevistado para o Expresso. No seu registo habitual, de homem habituado a dizer o que pensa sem se preocupar com politiquices, deu a sua opinião sobre a homossexualidade.
Como já é habitual logo se criou um escândalo, com a inevitável Isabel Moreira a clamar pela intervenção da Ordem dos Médicos por o Senhor Professor ter proferido palavras contra a ortodoxia contemporânea. Clamor no qual foi acompanhada pelos seus antigos companheiros de blog (cujo o nome dispenso de publicitar) Miguel Vale de Almeida (o ex-deputado que só o foi até ser aprovado o casamento entre pessoas do mesmo sexo, tendo logo de seguida resignado ao mandato) e Ana Matos Pires (uma das já famosas “duas médicas” que vão apresentar queixa à Ordem). Só faltou de facto a Fernando Câncio, para o ramalhete ficar completo.
A nova Comissária Política das causas fracturantes lida com as divergências ao bom velho estalinista: qualquer desvio da ortodoxia (ditada por ela) é um erro que deve ser eliminado. Isabel Moreira não discute opiniões ou ideias. Ela é a detentora da verdade e quem dela discorda deve ser perseguido. E, infelizmente, existem sempre alguns seres, daqueles cuja a vida se resume ás campanhas virtuais e cujo o sonho é viver no eixo Chiado – Príncipe Real – Campo de Ourique, dispostos a seguir fielmente a querida líder.
E chegado aqui não posso deixar de perguntar: quem é Isabel Moreira e porque razão lhe dão os media tanta tempo de antena? Que obra ou feito tem a senhora deputada no seu currículo para ser a guardiã da ortodoxia?
A última vez que eu reparei Isabel Moreira devia toda a sua carreira a três factos: o nome, o apoio do lobby fracturante e a sua enorme falta de educação. Não fora ser a filha rebelde de Adriano Moreira, defensora ardente de qualquer causa fracturante, capaz de insultar e ameaçar todo os que discordam de si, quem é que ligaria à senhora? A diferença entre Isabel Moreira e os trolls do facebook, é que a ela o Partido Socialista decidiu dar palco.
E vivemos num tempo tão estúpido, tão dominado pelos pequenos escândalos da redes sociais empolados pelos jornalistas, que um homem que serviu o país toda a sua vida sem nunca ocupar qualquer cargo político pode ser perseguido por uma mulher que só ocupou cargos políticos sempre ao serviço dos lobbies seus amigos. E há quem a aplauda e lhe aprecie a “coragem” (de perseguir um senhor velhinho através dos seus “seguidores”…).
Evidentemente o Professor Gentil Martins não precisa da minha defesa. Sobretudo contra pequenos Comissários Políticos que claramente nasceram demasiado tarde para cumprir a sua verdadeira vocação como bufos da PIDE ou informadores do NKVD.
Contudo há nesta polémica um facto que é importante sublinhar. É que existe em Portugal uma deputada, apoiada pela direcção de um grande partido e apaparicada pelos meios de comunicação social, que emite uma fatwa contra um dos maiores médicos portugueses vivos porque discorda das suas afirmações. Não discute, não debate, limita-se a proclamar que é dever dos médicos fazer queixa de um colega porque este se atreveu a publicamente afirmar aquilo em que acredita.
Para mim a grande questão é: o Partido Socialista adere à perseguição ideológica da sua deputada? Os restantes partidos políticos ficam em silêncio perante a tentativa de censura por parte de uma deputada? A comunicação social vai continuar a fingir que é normal uma politica incitar à perseguição por parte dos seus seguidores de quem não pensa como ela? Chegámos a um tempo onde ninguém ousa publicamente contrariar o lobby representado pela Isabel Moreira?
Mal estamos quando aquilo que alguém pensa é mais escandaloso do que a tentativa de instaurar uma ditadura de pensamento único.
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