Os lutos
MIGUEL ESTEVES CARDODO PÚBLICO 18.06.17
É a altura de ouvirmos quem precisa, de ouvirmos quem não consegue falar, de ouvirmos a angústia de quem só é capaz de chorar.
A tragédia de Pedrógão Grande é avassaladora. Humilha-nos com imensidão. A dor cala-nos. Não é altura de tirar conclusões. Não é a altura de pensar em voz alta. É a altura de ouvir, de querer ajudar, de respeitar quem morreu, quem luta pela vida, quem está a sofrer.
O luto é nacional por ser sentido por todos mas, como todos os lutos, só quem sabe quem perdeu é que o pode compreender. É a altura de ouvirmos quem precisa, de ouvirmos quem não consegue falar, de ouvirmos a angústia de quem só é capaz de chorar.
Cada pessoa que morreu era o centro de várias vidas que nunca mais serão as mesmas. Custa pensar nestas perdas, uma a uma e vez após vez, porque somos incapazes de imaginar tal desespero. Mas é em todas estas perdas que temos de pensar: quem era, quem eras, quem eram e a falta que faz, que fazes, que fazem...
Não é a altura para falar em lições. Ninguém se ofereceu para dar a vida para nos ensinar nada. Ninguém se sacrificou. As pessoas que morreram e ficaram feridas — e todas aquelas que ficaram de cabeças perdidas e corações pesados por causa delas — merecem o respeito absoluto de ficarmos parados, sem sabermos como reagir.
É altura de ouvirmos, de ajudarmos, de esperar para sabermos, dessas pessoas doridas, o que podemos fazer, se é que algum de nós pode ajudar o que pode não ter ajuda, como a morte.
As dimensões terríveis da tragédia obrigam-nos a pensar no horror que seria só ter morrido uma pessoa. Foi o que aconteceu, muitas dezenas de vezes. E nem o luto sabe responder.
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