Carta de um pai às educadoras dos seus filhos
BERNARDO VALLE DE CASTRO 27.06.17
Excelentíssimas Educadoras dos meus filhos,
Sim, não é um exagero chamar-vos “excelentíssimas”! A vossa actividade é uma actividade de excelência: é A
actividade de excelência. E isso torna-vos excelentíssimas.
Nas próximas linhas quero agradecer-vos infinitamente o valiosíssimo trabalho que fazem diariamente. É louvável o
ofício, e é notável a forma como o fazem. Ouvem com certeza isto muitas vezes, mas quero garantir que pelo menos
também pela nossa “boca” o ouvem.
1. A missão
Têm em mãos a maior riqueza que objectivamente existe no mundo: pessoas que entram agora nele. Não existe
maior tarefa, mais digna, mais elevada, de tanta responsabilidade, que exija tanto de alguém.
Desejo ardentemente que, apesar do cansaço que devem sentir no final do dia de trabalho (e eu só tenho que lidar
com os meus!), consigam voltar constantemente àquele desejo, talvez então pouco maturado, que vos fez escolher
essa missão, a vossa vocação.
Quando decidimos ser pais, é porque estamos abertos ao que Deus nos pede: na Sua eterna generosidade e
humildade, Deus quis precisar de nós para continuar o Seu projecto de Criação. Aceitar este pedido é uma parte
relevantíssima do trabalho de permitir que mais gente seja feliz, dando a conhecer o Amor que Deus tem por cada
nova criatura.
Mas é só uma parte: a outra é ajudar a pessoa a crescer, a descobrir quem é, ao que pertence, a Quem pertence. E
aqui entram não apenas os pais mas também a escola.
Os pais são quem primeiro acolhe e apresenta o mundo aos filhos, dando-lhes os critérios com que depois nele
actuarão, usando cada vez mais a sua liberdade. Que enorme responsabilidade a de mostrar a novas pessoas, ainda
tábuas rasas, tudo aquilo de que elas são herdeiras: uma cultura, tantos valores, tantas ideias e conquistas que o
Homem fez até chegar aqui. É, de facto, uma tarefa desproporcional em relação à nossa capacidade. Mas é uma
responsabilidade da qual não nos podemos alienar.
Se, por um lado, devemos permitir que os nossos filhos trilhem o seu próprio caminho, como seres únicos,
independentes e individuais que são, feitos para a liberdade e para irem ainda mais longe no caminho que chegou
até eles, devemos antes, ainda assim, obrigatoriamente, dar-lhes o mapa que recebemos enquanto herdeiros de
milhares de anos de Humanidade. Seria um erro não propor como caminho certo e seguro aquele que recebemos,
testado, pensado, maturado, bom. Com a sua liberdade, os nossos filhos poderão depois traçar o seu próprio
caminho, usando os critérios que lhes fornecemos como instrumentos seguros, ou outros que da sua experiência
tenham recebido.
Enquanto pais, o que queremos é que, usando ou não os critérios que lhes fornecemos – que achamos bons e úteis e
por isso lhes transmitimos – eles saibam o que são critérios verdadeiros, que os tornam livres e felizes.
Enquanto católicos, temos a tarefa mais que facilitada: sabemo-nos integrados no corpo da própria Verdade
incarnada, cujo único propósito é ver-nos felizes. Ao longo de séculos, de milénios, o Homem foi pensando e
percebendo o que correspondia ao seu infinito desejo de felicidade. A certa altura Jesus afirmou ser, Ele próprio, a
resposta a esse desejo. Quais são os pais que, tendo experimentado isto, não o desejam também para os seus filhos?
Enquanto católicos, já temos o mapa. Isso não nos dispensa, contudo, de verificarmos, nós próprios, por nós,
utilizando a nossa inteligência, a bondade desse caminho que nos é apresentado. É nossa obrigação fazê-lo.
3. As educadoras dos meus filhos: quem, com os pais, lhes apresenta a Humanidade
Assim pensada a tarefa dos pais, rapidamente percebemos que a tarefa dos educadores (e dos professores) é em
tantas coisas semelhante à de pais.
Seria absurdo querer “ensinar o Padre Nosso ao vigário”, mas perdoar-me-ão a minha vontade de querer transmitir o
que desejava que fosse a tarefa de quem recebe os meus filhos desde os poucos meses de idade.
É um enorme privilégio, o vosso, o de serem as primeiras pessoas fora do círculo restrito da família para quem os
nossos filhos vão olhar como exemplo. Que responsabilidade! A forma como falam, a forma como agem, a forma
como respondem, como olham, como jogam com eles, tudo isso – sabem-no bem – é por eles bebido com critério.
Dentro de cada tarefa, estão a completar nos nossos filhos os óculos com que depois eles olharão para a sua vida.
Que aliança tão grande que tem que haver entre nós. É comovente ir buscar os filhos ao Colégio e, no carro, ouvir
um deles a cantar as músicas que nós já não ouvíamos desde crianças; ou quando rezamos no carro, de manhã, e
eles dizem que falta uma coisa: “Em nome do Pai, do Filho e ́Pirito Santo”: é aqui, nestes pequenos pormenores, que
temos a certeza de que a tradição está a ser passada.
A minha preocupação como pai, na fase em que os meus filhos estão – e por isso vos dirijo agora estas linhas – é que
eles olhem para as educadoras e vejam referências em tudo imitáveis, sem excluir absolutamente nada. Também a
imperfeição que nos caracteriza é oportunidade de educar, se com ela eles aprenderem o que é a vontade de
melhorar e o perdão. Quero, claro, que eles aprendam as pequenas tarefas que são adequadas para aprender na sua
idade, mas ao mesmo nível quero que eles tenham o privilégio de embaterem em humanidades grandes, em pessoas
intrinsecamente verdadeiras, autenticamente boas. Isso não está em nenhum contrato profissional: está no desejo
de perfeição que nos faz felizes se for seguido.
Rezo por todas as educadoras dos meus filhos, para que, no limite, sejam como Nossa Senhora e, através das tão
absolutamente fundamentais tarefas que ensinam aos meus filhos, os ajudem a ver a Verdade.
Muitíssimo obrigado,
Bernardo do Valle de Castro (pai do Bernardo Pio, da Leonor e da Maria)
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