A nossa casa

Público 2012-04-10 Miguel Esteves Cardoso

Patrícia Valinho está a construir uma casa em Ferraria de S. João que é "pelo menos 99% fabricada em Portugal". O título era A casa da Patrícia, com certeza e a reportagem vinha na última revista 2, bem escrita e fotografada por Ana Rute Silva e Enric Vives-Rubio.

Valinho explica o 1 por cento que falta, num parágrafo comovente, que começa com uma frase digna de Alberto Caeiro: "Há poucas coisas que não são portuguesas, como as lâmpadas". Continua: "Mas a Is Green está a produzir e, assim que estiverem prontas, também serão instaladas lâmpadas nacionais. Os espelhos são transformados em Portugal mas cá não se fabricam. Tal como a matéria-prima do vidro, que vem de fora.

É bonito e bom provar a auto-suficiência, sobretudo numa altura - como esta e como tantas outras que já houve e há-de haver - em que a nossa dependência do dito e significativo "exterior" é mais óbvia, cara e amaldiçoada.

Embora não seja bem assim o nacionalismo português bem pensante. Tanto a nossa história como a nossa alma colectiva, caso exista, é comerciante. Se as avelãs da Turquia forem melhores do que as nossas - não são - ou se os melhores pistáchios vierem de um país pouco amado, muito melhor em pistáchios do que nós, como o Irão, queremos lá saber da proveniência. Até somos capazes de abdicar do preço mais baixo - se a qualidade for maior.

A casa mais portuguesa é a que não se importa de ser a melhor do mundo. Venha lá de onde vier. E esteja onde estiver.

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