Festival Terras sem Sombra apresenta primeira estreia moderna do Te Deum de Marcos Portugal em Almodôvar
No 250.º Aniversário de Marcos Portugal
Festival Terras sem Sombra apresenta primeira estreia moderna
do Te Deum em Almodôvar
“Marcos Portugal é o mais famoso compositor português; as suas óperas rivalizavam nos palcos internacionais, em inícios do século XIX, com as de Rossini e Mozart, divulgando o nome do nosso país” – afirma José António Falcão, director do Departamento do Património da Diocese de Beja, responsável pelo Festival Terras Sem Sombra. Marco Portogallo, como se tornou conhecido internacionalmente, nasceu em Lisboa em 1762 e faleceu no Rio de Janeiro em 1830. No ano em que se comemoram os 250 anos do seu nascimento, este festival presta-lhe homenagem (a ele e a Domenico Cimarosa, mestre napolitano cuja linha musical prosseguiu) com um concerto, a 14 de Abril, às 21h30, na igreja matriz de Almodôvar.
Sob a direcção de António Vassalo Lourenço, o Coro da Universidade de Aveiro e a Orquestra Filarmonia das Beiras interpretam um Te Deum composto por Portugal em 1802 – o “Te Deum laudamus a quatro voci com piena orchestra” que resultou de uma encomenda da Casa Real para o baptismo do infante D. Miguel no palácio de Queluz. Originalmente um hino litúrgico cantado em dias festivos do calendário religioso, o Te Deum passou também a ser usado nas cerimónias litúrgicas de acção de graças. Em Portugal, este género de música sacra ganhou especial importância no tempo de D. João V, que mandou celebrar um Te Deum todos os anos, a partir de 1718, no dia 31 de Dezembro, como agradecimento pelas graças divinas concedidas ao reino. Era um sinal da aliança entre o Trono e o Altar.
Contemporâneo de Marcos Portugal, Domenico Cimarosa (1749-1801), figura destacada da escola napolitana, apresenta, na sua brilhante e vasta produção, muitos pontos de contacto com o nosso autor. Peças de um e de outro foram frequentemente intercaladas nos teatros da época e o compositor português acabou por impor-se, na sequência de Cimarosa, como uma referência-chave na vida musical europeia dos inícios do século XIX. É esta complementaridade que se valoriza no concerto, através de uma famosa composição de Cimarosa, o Requiem em Sol menor.
O tributo ao mestre luso, que brilhou com luz própria nos palcos europeus, torna-se inevitável quando um dos propósitos do Terras Sem Sombra se prende com a valorização do património musicológico português. O concerto de Almodôvar é, segundo Paolo Pinamonti, director artístico do Festival, “extremamente simbólico, uma vez que a exaltação de um dos mais famosos compositores portugueses de todos os tempos se alia à interpretação de actuais e promissores agrupamentos e intérpretes nacionais, numa perfeita união do passado ao presente”.
Almodôvar constitui um marco na história da música alentejana. Acolhendo o Terras sem Sombra desde 2003 – ano de fundação –, beneficiou da presença do convento de Nossa Senhora da Conceição, de frades terceiros franciscanos, influente pólo musical. O enriquecimento da tradição polifónica por parte desta comunidade deixou abundantes vestígios. Do seu legado faz parte também um magnífico órgão, encomendado no século XVIII em Hamburgo, que se conserva, silencioso, no coro alto da igreja conventual. Recuperá-lo, dentro de parâmetros rigorosos, é um projecto acalentado pelo Departamento do Património da Diocese de Beja e que conta com o interesse do município, parceiro do FTSS.
Um elenco de relevo
Director da Orquestra Filarmonia das Beiras desde 1999, António Lourenço é responsável pelas classes de Coro e Direcção da Universidade de Aveiro. Tem dado particular atenção à música portuguesa, levando a cabo estreias, primeiras audições e gravações de obras de compositores nacionais. Em 1996 terminou o mestrado em Direcção de Coro e Orquestra na Universidade de Cincinnati (Estados Unidos da América), onde foi docente, concluindo o doutoramento em 2005. Responsável pelo Festival Internacional de Música de Aveiro (2000-2004), criou em 2006 criou o Estúdio de Ópera de Centro.
O Coro do Departamento da Universidade de Aveiro é composto pelos alunos da Licenciatura e do Mestrado em Música. Apresentou-se ao público em 1998 e colabora regularmente com a Orquestra Filarmonia das Beiras. Esta deu o primeiro concerto em 1997 e é formada por 23 músicos de cordas de várias nacionalidades, com uma média etária jovem. Participa nos principais festivais de música e em cooperações com outros organismos artísticos, sendo regularmente dirigida por maestros estrangeiros e pelos mais conceituados maestros activos em Portugal.
Salvaguarda da biodiversidade na bacia do Guadiana
Possuidor de um conjunto formidável de recursos biodiversos, o nosso país enfrenta neste momento grandes responsabilidades, a nível global, para conservá-los e valorizá-los adequadamente. Tarefa, nunca é demais lembrá-lo, que assume a maior relevância no Alentejo, um dos territórios com mais altos índices de preservação da Europa, mas onde a desertificação do interior rural e a concentração no litoral levantam grandes desafios.
Ao abrigo de um protocolo com o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas e outras instituições presentes no terreno, o Terras sem Sombra promove acções-piloto para a salvaguarda da biodiversidade. Estas iniciativas permitem que voluntários de origens ou perfis muito diversos colaborem, ombro com ombro, em actividades úteis à conservação da natureza. Actividades simples, mas que encerram toda uma mensagem dirigida aos decisores e à opinião pública.
Em Almodôvar, músicos e espectadores juntam-se à comunidade local para, com o Parque Natural do Vale do Guadiana e o Centro de Excelência para a Valorização dos Recursos Silvestres Mediterrânicos, realizarem uma acção na bacia do Guadiana, no dia 15, às 10H30. Centrada na ribeira do Vascão, a iniciativa tem por alvo a sua diversidade biológica, com destaque para a ictiofauna, através da monitorização de espécies de peixes em risco (como o saramugo, hoje mais raro ameaçado do que o lince ou o panda) e a recolha de espécies exóticas, visando o estudo de parâmetros biofísicos. Outro pólo de atenção são as plantas aromáticas e medicinais, um extraordinário potencial da vegetação autóctone, sustentáculo de diversificação empresarial e de emprego.
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