A Igreja na Europa: a que somos chamados?

Pe. Duarte da Cunha
A Voz da Verdade, 20110612
12 Jun. 2011
Quando pensamos na missão da Igreja temos sempre de considerar aquilo que hoje, no lugar que lhes toca viver, e nas circunstâncias concretas os cristãos, cada um e a comunidade no seu todo, são chamados a fazer. Mas depois temos de ter bem presente o que é o seu “contributo específico”. 

Alguns aspectos da realidade europeia precisam de ser enfrentados: a relação entre unidade e pluralidade, a todos os níveis, desde a relação entre cada país e a União Europeia até ao ecumenismo. De certo modo relacionado com esta questão vem o multiculturalismo que se torna mais visível e importante quando o fenómeno migratório adquire na Europa uma dimensão excepcional (hoje há cerca de 36 milhões de imigrantes na Europa, há 20 anos eram 21 milhões!). Há, depois a questão da família fundada no matrimónio e berço de vidas novas que é a base de uma sociedade capaz de acolher o outro e de progredir e que hoje é posta em causa de tantos modos. Associada à crise da família está, por isso, a desafeição pela vida daqueles que são mais frágeis: os que ainda não nasceram, os idosos ou doentes, os deficientes. Não estranha, nestas circunstâncias, o inverno demográfico. Pensar que há quase tantos jovens com menos de 24 anos no Egipto como em toda a União europeia faz temer o futuro. É certo que há muita coisa boa hoje, basta pensar no desenvolvimento tecnológico que aproxima tanta gente. Ou no progresso da ciência que ajuda tantos doentes. Mas se não houver uma pessoa adulta com uma consciência bem formada, sabemos que aquilo que é bom pode ser mal utilizado. Há, depois a questão económica. A Europa está em crise e são várias as razões. A crise afecta realmente muita gente. O desemprego é gravíssimo. São tantas as famílias que sofrem hoje. Tudo isto nos faz sentir falta de bons políticos que queiram mesmo servir o bem comum e não o seu próprio bem ou o de uma qualquer agremiação ideológica.
Tendo tudo isto presente somos levados a dizer que a crise hoje é sobretudo cultural. Uma cultura desorientada. A arte que deixa de ter relação com a beleza e com a verdade, as leis que se desligam da natureza das coisas e das pessoas, as próprias palavras que perdem o significado ou adquirem outro para esconder projectos políticos. E acima de tudo o facto de se tonar normal preferir viver distraído do que pensar no sentido da vida. A própria fé, que se não for a resposta a um desejo consciente do coração humano é um simples sentimentalismo sem capacidade de incidir na vida quotidiana, deixa de ter lugar na vida real. Deus como que é relegado para o outro mundo.
Mas a questão permanece: qual é a missão da Igreja nesta Europa de hoje? No Portugal de agora? Não há dúvida que a Igreja tem uma missão urgente, mas é preciso perceber bem o que é o seu contributo próprio. O Santo Padre na Encíclica Caritas in Veritate, diz, claramente, que a “Igreja não tem soluções técnicas para oferecer e não pretende « de modo algum imiscuir-se na política dos Estados »; mas tem uma missão ao serviço da verdade para cumprir, em todo o tempo e contingência, a favor de uma sociedade à medida do homem, da sua dignidade, da sua vocação.” (CiV 9).
Podemos, então, concluir que em todos os grandes e pequeno desafios a Igreja hoje, como sempre, é chamada a Evangelizar. Quando a Igreja se perde a discutir soluções técnicas para os problemas económicos, ecológicos ou técnicos e se esquece a sua identidade e fica sem saber qual é o seu “contributo específico”. Para ser fiel a si mesma, ela é chamada a dar Jesus Cristo ao mundo, a falar da salvação, da vitória da misericórdia sobre o pecado, do amor de Deus que veio para nos dar uma vida em abundância. E graças a Deus, hoje há, em toda a Europa, e apesar das crises, muitos lugares onde é possível encontrar pessoas apaixonadas por Jesus Cristo e que O conseguem transmitir. Há sede de Deus e há quem anuncie. Basta estar com atenção. Como dizia santo Agostinho: “fomos exortados a cantar um cântico novo. Ora, o homem novo é quem conhece o cântico novo. E o cantar é sinal de alegria e, se consideramos com mais atenção, é expressão de amor (sermão 34).
Pe. Duarte da Cunha, Secret. Geral do CCEE

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