Irmãos e cuidadores

PAULO BALDAIA     DN     31.05.17

Num mundo perfeito, a humanidade funciona como uma família onde todos são irmãos. As religiões gostam, aliás, de tratar assim os que comungam da mesma fé. Agnóstico, amo religiosamente os irmãos que tenho. Tenho sorte por pertencer a uma família de nove filhos em que todos estão dispostos a ajudar cada um. Hoje é o Dia dos Irmãos.
Como há o Dia do Pai e o Dia da Mãe, a Confederação Europeia das Famílias Numerosas aprovou, em 2014, a celebração deste dia. Primeiro em Portugal, depois no resto da Europa. Escrevo este texto a pedido de José Ribeiro e Castro, um dos promotores desta iniciativa. Faço-o com gosto, para homenagear uma irmã entre nove.

Em famílias grandes, como a minha, há a fase de crescimento em que os mais velhos fazem de pai e de mãe, dando o exemplo. Há, depois, a fase de consolidação das vidas de cada um, em que solidariamente multiplicamos a felicidade do sucesso de alguém e dividimos tristezas pelos tropeções que podem acontecer a qualquer um. Há uma fase seguinte em que a família cresce com mais famílias, em que acrescentam cunhados e sobrinhos. Para tudo há um princípio e um fim e chega sempre a hora em que temos de ver alguém partir. Na vida da minha família, já vimos partir uma irmã, o pai e a mãe. Toda esta tristeza é sempre superada pelo que tivemos oportunidade de viver.

Eu e os meus irmãos, mais os filhos de cada um, continuamos a viver juntos as festas de família. O Natal, a Páscoa, o 10 de Junho.

Cuidamos uns dos outros, mas há sempre alguém que se destaca. Não é uma manifestação de preferência, que não se tem por nenhum dos filhos, por nenhum dos pais, por nenhum dos irmãos. É uma homenagem à minha irmã Juca, que deu parte da sua vida a cuidar da mãe de todos e que, agora, dedica todo o seu tempo cuidando de um irmão que sofre. Que amor tão grande eu sinto por esse irmão, pouco mais velho do que eu e que chegámos a ser da mesma turma, mas eu não consigo dar da minha vida o suficiente para lhe diminuir a dor e Juca consegue.
Cuidar uns dos outros é a essência de ser irmão, justifica-se a existência deste dia. É um belo dia para agradecer todos os irmãos que tenho, quando me lembro deles o meu coração enche-se de amor.

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