Tríudo Pascal :: 5ª feira Santa
O Tríduo Pascal
A partir do século IV, iniciou-se a celebração do Sacratíssimo Tríduo do Senhor crucificado, sepultado e ressuscitado, conforme nos relata Santo Agostinho na Epístola 53, 25.
É o Período que conhecemos como Tríduo Pascal. Ele é constituído pelos três dias que precedem a solenidade de Páscoa: Quinta-feira Santa, Sexta-feira Santa e Sábado de Aleluia.
Quinta-feira Santa
Na Quinta-feira Santa celebra-se a instituição da Sagrada Eucaristia e também do Sacramento da Ordem.
Duas instituições que bem mereceriam comemorações de alegria. Contudo, os festejos são evitados. O clima de dor, o ambiente de luto da Semana Santa leva a que estas manifestações de júbilo não sejam exteriorizadas. Por isso mesmo, a festa pela instituição da Sagrada Eucaristia foi transferida para a ocasião da solenidade de Corpus Christi, algum tempo depois da data da instituição dela na Santa Ceia.
A Benção dos Santos Óleos
Na Quinta-feira Santa durante a missa matutina, também chamada Missa do Crisma, o bispo na catedral celebra o rito da Benção dos Santos Óleos.
Os óleos que o bispo abençoa são:
1 - o óleo dos enfermos, usado para a extrema-unção e para a benção dos sinos;
2 - o Santo Crisma, no qual são ungidos os recém-batizados, são marcados com o sinal da cruz os que receberão o sacramento da confirmação, são ungidas as mãos dos presbíteros e a cabeça dos bispos, bem como a igreja e os altares na sua dedicação;
3 - o óleo dos Catecúmenos, aqueles que se preparam e se dispõem para receber o sacramento do Batismo.
Assim se desenrola o rito da benção dos santos óleos:
Após a homilia, entra na igreja um cortejo de ministros ou diáconos que levam consigo os santos óleos, na seguinte ordem:
Primeiro, o ministro com o recipiente dos perfumes, caso o Bispo queira fazer pessoalmente a mistura do crisma; a seguir, outros ministros com o vaso do óleo dos catecúmenos, se precisar ser benzido; depois outro ministro leva o vaso com o óleo dos enfermos. E por fim, levado por um diácono ou um sacerdote, o óleo destinado ao crisma.
O diácono que leva o vaso para o santo crisma apresenta-o ao Bispo, dizendo em voz alta: Eis o óleo para o Santo Crisma.
O bispo recebe-o e entrega-o a um dos diáconos assistentes que o coloca sobre uma mesa para este fim preparada. O mesmo fazem os que levam os vasos do óleo dos enfermos e dos catecúmenos.
O primeiro diz: Eis o óleo dos enfermos; e o outro: Eis o óleo dos catecúmenos. E o Bispo recebe-os do mesmo modo como recebeu o óleo para o Santo Crisma.
Os óleos são abençoados em momentos diferentes.
A benção do óleo dos enfermos faz-se antes do fim da Oração eucarística; a benção do óleo dos catecúmenos e a consagração do crisma, após a comunhão. Mas é permitido abençoá-los todos, após a liturgia da palavra.
Originalmente, administrava-se o batismo solene dos catecúmenos no Sábado Santo, e talvez seja o principal motivo, por que se benze este óleo na quinta-feira santa.
É provável que nascesse daí o rito do sábado de aleluia, que manda benzer, com óleos recém-consagrados, a água batismal.
A Missa Solene de Quinta-feira Santa
A Igreja parece, por um instante esquecer a sua dor para festejar o grande mistério da Eucaristia: os cantos são alegres, os sinos repicam.
No princípio da missa, celebrada pela tarde, nota-se o caráter jubiloso: toca o órgão e repicam os sinos ao Glória in excelsis Deo, para se calarem logo depois até o Glória do Sábado de Aleluia.
Este emudecer dos sinos relembra o mutismo dos apóstolos: ficaram calados em toda a paixão em vez de se erguerem a voz para defesa do seu Mestre, como lhes competia.
Findo o Gloria in excelsis Deo, já não toca mais o órgão.
Não se tocam os sinos em sinal da grande tristeza por causa da Paixão e morte do Salvador.
Não se canta o Aleluia.
Também não se dá o ósculo da paz, significando isto a repugnância inspirada pelo beijo do traidor Judas, exatamente nas circunstâncias da Quinta-feira Santa.
É bom lembrar que as cruzes dos altares são cobertas, menos a do altar-mor. Esta será coberta com véu branco, durante a missa. E assim elas serão mantidas até o sábado Santo.
Para que seja mais frisante e sugestiva a recordação da Ceia suprema em que Nosso Senhor --único consagrante-- deu-se por suas próprias mãos aos apóstolos, é celebrada apenas uma missa em cada igreja.
Os outros padres que não celebram a missa, assistem a ela portando estolas e recebem a comunhão da mão do bispo ou do principal dignatário presente, que normalmente é quem celebra. Desta forma recorda-se a comunhão que os apóstolos receberam das mãos do próprio Nosso Senhor, no dia em que foi instituído o sacramento da eucaristia.
Na Quinta-feira Santa é conservada uma hóstia consagrada:
1º a fim de que se tributem especiais adorações ao Sacramento da Eucaristia no dia de sua instituição;
2º Para que se possa celebrar a liturgia na Sexta-feira santa, dia em que os sacerdotes não consagram.
A cerimônia do Lava-pés.
Após a homilia da missa vespertina da quinta-feira santa, segue-se a cerimônia antigamente chamada "mandato", nome tomado da palavra inicial da primeira antífona: "Mandatum novum", chamada também lava-pés, porque lavam-se os pesa 13 homens pobres. Já Santo Agostinho conhecia esta cerimônia, realizada, porém, em outro dia.
O "Lava-pés" é realizado, geralmente, à noite. Em Roma, o papa lava os pés a doze sacerdotes, em memória do ato que praticou Nosso Senhor antes instituir a Santíssima Eucaristia, lavando os pés dos doze apóstolos (Jo 13, 1-17).
Nosso Senhor queria ensinar aos apóstolos que a pureza e a humildade são duas virtudes essenciais, muito convenientes para a digna recepção do sacramento da eucaristia.
Nas catedrais, o bispo lava os pés a doze pobres. Depois, enxuga-os. Beija-os com respeito e entrega a cada pobre uma esmola, nos mesmos sentimentos de humildade e caridade que tinha o Salvador Jesus.
O costume do Lapa-pés, é antigo na Tradição da Igreja. Desde o século IV, aparece em todas as liturgias.
Esta cerimônia é realizada:
1º - Para renovar a memória daquele ato de humilhação com que Jesus Cristo se baixou afim de lavar os pés dos seus Apóstolos;
2º - Porque Ele mesmo exortou-os, e na pessoa deles todos os fiéis, a imitar o seu exemplo;
3º - Para nos ensinar que devemos purificar o nosso coração de toda a mancha, e praticar, uns para com os outros, os deveres de caridade e humildade cristã.
A Transladação do Santíssimo Sacramento
Durante a Quinta e Sexta-feira Santa o tabernáculo deve estar totalmente vazio.
Por este motivo, consagra-se na quinta-feira a quantidade de hóstias suficientes para a comunhão destes dois dias. Desse modo, serão tributadas especiais adorações ao Sacramento da Eucaristia no dia em que foi instituído, e poderá ser celebrada a liturgia na Sexta-feira santa, ocasião em que o sacerdote não consagra.
No final da Missa, o sacerdote de pé ante o altar, põe incenso no turíbulo e, ajoelhando-se, incensa três vezes o Santíssimo Sacramento. Recebendo o véu umeral, toma o cibório e o recobre com o véu.
Então, processionalmente, debaixo de um pálio e com a maior pompa, o Santíssimo Sacramento é levado a uma capela devidamente ornada num lugar à parte, chamado Santo sepulcro. Durante a procissão, canta-se o hino "Pange língua".
Chegando ao lugar da reposição, o sacerdote deposita o cibório no tabernáculo, coloca incenso no turíbulo, ajoelha-se e incensa o Santíssimo Sacramento. Em seguida, fecha-se o tabernáculo.
Após alguns momentos de adoração o sacerdote e os ministros fazem a genuflexão e voltam para a sacristia.
Desnudação dos altares
A alegria se mistura com o luto. É o silêncio do órgão, dos sinos e das campainhas, substituídas pela matraca durante a missa, para lembrar a traição de Judas, e pela desnudação dos altares, no ofício, significando a desnudação de Jesus, a fim de ser açoitado e pregado na Cruz.
Regressando do altar da exposição, canta-se as Vésperas.
Imediatamente após, o oficiante, de estola roxa e assistido por seus ministros, começa a cerimônia, tirando dos altares as toalhas com todos os enfeites que as adornam. Deixa-se aberta a porta do tabernáculo, para indicar que não está presente o Hóspede Divino.
As nossas adorações dirigir-se-ão, portanto, daí em diante, à cruz e é diante dela que faremos as nossas genuflexões.
Enquanto se faz a desnudação dos altares, recita-se o salmo 21. Nele Davi profetizou a Paixão do Salvador com as circunstâncias da sua morte no Calvário: "Deus Deus meus, respice in me" com a antífona "Diviserunt sibi vestimenta mea...": "Repartiram entre si minhas vestes, tiraram à sorte à minha túnica".
O comovente simbolismo desta cerimônia recorda-nos uma hora das mais angustiosas da Paixão, quando Jesus foi abandonado pelos seus e despojado pelos verdugos que tiraram à sorte a túnica inconsútil.
O Divino Mestre nos ensina dessa forma que, para celebrar dignamente a sua Paixão, devemos despojar-nos do homem velho, isto é, de todo o afeto mundano e voltarmos para Deus.
Por Emílio Portugal Coutinho.
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