Meu Senhor e Meu Deus!
"Meu Senhor e Meu Deus!"
(Jo, 20, 28)
Estas palavras de S.Tomé têm, para mim, uma familiaridade que nasceu nas missas de sexta- feira na Escola Avé-Maria. Todas as sextas-feiras, os alunos reuniam-se na capela, à primeira hora de manhã para a Santa Missa. Cresceu, por isso, naquela capela todas as semanas, a minha consciência da presença de Jesus na Eucaristia.
Com a solenidade do evento e a sonolência da manhã, o momento da consagração, de joelhos e com a cabeça entre as mãos, levavam-me sempre a cabecear e fechar os olhos, alheia ao milagre que ali se passava no momento alto do sacrifício de Jesus. Mas logo acordava com a voz forte e decidia da Minhana, a directora, que de joelhos anunciava, ao toque do sino que ela própria fazia soar:
- Meu Senhor e Meu Deus!
Depois da consagração do pão, a consagração do vinho e logo uma segunda vez:
- Meu Senhor e Meu Deus!
Até hoje, na privacidade da oração da consagração, ainda repito estas palavras para mim e para Ele.
- Meu Senhor e Meu Deus!
Foi só há poucos anos que vivi esta experiência própria de S.Tomé. O incrédulo que acreditou quando viu. Somos todos assim, na verdade, precisamos de ver para acreditar. E Ele é assim connosco: mostra-nos que está verdadeiramente presente.
Foi num dos internamentos mais difíceis do nosso filho Pedro que cheguei de manhã à sala de Cuidados Intensivos e o encontrei de barriga para
baixo, braços abertos e a cama quase vertical. Apesar da ajuda do ventilador, esta posição em cruz tinha sido a única que a equipa tinha encontrado para ele conseguir respirar. Incrédula, olhei à volta da sala, paredes nuas de crucifixos como exige um serviço público laico e depois voltei-me de novo para ele, para contemplar a cruz. Aproximei-me, beijei-lhe o pezinho, porque a cara era um emaranhado da
máscara e dos tubos de alimentação, aspiração e oxigênio, e disse com voz sumida, incrédula a começar a acreditar:
- Meu Senhor e Meu Deus!
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