O 25 de abril foram três revoluções
rui a. BLASFÉMIAS.NET 24.04.17
A primeira, que hoje comemora 43 anos, derrubou um regime velho e caduco, que não se soubera modernizar e, pior que tudo, que não foi capaz de resolver politicamente uma guerra com treze anos e sem solução militar à vista. A guerra colonial foi, muito mais do que a questão democrática, o motivo principal que fez com que as Forças Armadas executassem um golpe de estado que, quase imediatamente, se transformou em revolução. Com excepção da tentativa do golpe de Botelho Moniz, em 61, Salazar conseguira sempre assegurar a lealdade das chefias militares, o que Marcello Caetano não foi capaz. A perda de Spínola e Costa Gomes, que surgem, na noite de 24 para 25 de Abril, como os chefes do movimento militar, foi fatal para o regime. A revolução só foi pacífica porque o regime deposto estava anquilosado e não teve reacção. Envelhecido por quarenta anos de salazarismo e por uma sucessão que se mostrou incapaz de cumprir a renovação que prometera e o país aguardava, já nem aqueles que o dirigiam acreditavam nele. O regime foi derrubado, mas não caiu: desfaleceu.
A segunda revolução só surpreendeu os incautos. Teve duas datas: o 28 de Setembro de 1974 e o 11 de Março do ano seguinte. Verdadeiramente, principiara logo uma semana depois do dia em que Marcello Caetano foi preso no Largo do Caldas, quando, no Dia do Trabalhador, o Dr. Cunhal explicou ao Dr. Soares e ao país que o entendeu, aquilo que ele queria dizer com «as mais amplas liberdades». Quem não ignorar a história, sabe que em qualquer revolução democrática, após o romantismo das primeiras intenções, conhece inevitavelmente um momento de radicalização para fazer triunfar a «verdadeira» revolução e partir os dentes aos «reaccionários». É esse o momento em que a escumalha tenta assaltar violentamente o poder e onde, se não houver reacção forte, se fazem os banhos de sangue. Sempre em nome das mais belas intenções e dos mais honestos propósitos. A Revolução Francesa, logo após 89, explica bem como é que essas coisas se fazem. E como infelizmente terminam. Para todos.
A reacção forte aos planos dos Dr. Cunhal veio de dentro e de fora do país, e corporizou-se no 25 de Novembro de 1975, verdadeiramente, o terceiro 25 de Abril, e aquele que instituiu a democracia e o Estado de direito em Portugal. De fora – pasme-se! – da própria União Soviética, que já tinha conseguido o que queria – as independências africanas – e não estava disposta a ceder aos ímpetos leninistas do seu agente em Lisboa, e provocar, com isso, um casus belli de consequências imprevisíveis com os EUA. O rectângulo peninsular não valia esse risco, e quem duvidar das verdadeiras intenções do Dr. Cunhal (que a pequena história tem feito passar por um poço de moderação e sensatez nestas alturas) que leia o livro do José Milhazes intitulado Cunhal, Brejnev e o 25 de Abril… A segunda reacção veio de dentro, do país profundo, e devemo-la a Mário Soares, Jaime Neves, Ramalho Eanes, Sá Carneiro, Emídio Guerreiro, Salgado Zenha, os homens que travaram o Partido Comunista e a radicalização revolucionária. Só com eles – e graças a eles – os propósitos iniciais da revolução foram cumpridos.
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