Uma revolução de ternura

Retomo um acontecimento do tempo da quaresma que queria aprofundar, do início do mês de Março. 

O famoso Dia da Mulher. 
Esse dia do calendário internacional que tem vindo a ter maior atenção nesta sociedade obcecada com a igualdade de género. Sinto que é dado ao dia mais atenção do que a mim, mulher. Este sintoma da maneira comercial de celebrar, em que a agenda vale mais que a pessoa. Porque não me revejo nos direitos que estão na agenda para as mulheres. Há no ar uma tensão revolucionária, a que todas têm que aderir por fidelidade ao género. Eu sou claramente uma dissidente dessa revolução e explico porquê.

No passado dia 8 de Março, foi instalada em frente ao conhecido touro de Wall Street uma estatua de uma rapariga reivindicativa, a quem chamaram 'Fearless Girl',  "Rapariga sem medo", na placa aos seus pés lê-se "Know the power of women in leadership", "Conheça o poder das mulheres na liderança".

Três dias depois, fez anos a nossa filha Leonor. A nossa 'única' filha numa casa com outros três rapazes. Ela é amorosa e divertida, mas também é 'fearless', possessiva, e mandona. E os homens cá de casa (que ainda estão em maioria) não lidam nada bem com isso. Nos momentos de ternura derrete-os como ninguém consegue, nas birras e na 'revolução' que trouxe cá para casa não angaria partidários.

Ela fez 2 anos. A fotografia da 'fearless girl' é uma pose que lhe vejo muitas vezes e hei-de ver muitas mais, até que ela, desejavelmente cresça e aprenda aqueles valores que só as dores de crescimento podem ensinar: a humildade, a gratidão, a ternura, e verifique o poder que têm e que nós verificamos  e aprendemos, já agora, na sociedade doméstica cá de casa.

Uma revolução de ternura

Parece então que a revolução que é necessária, como disse o Papa Francisco ainda esta semana, é uma "revolução de ternura"; e diz S. Francisco de Sales que "não há nada mais forte que a ternura." 

Dear 'fearless girl' 
É admirável o teu potencial, são um verdadeiro dom, todos os teus talentos. É bom sentirmos que somos capazes de tudo sozinhos, que o mundo está aos nossos pés. Mas se um dia sentires que falhaste, que não conseguiste, ou descobrires que aquilo que te estabeleceram como objectivo não te satisfaz, " lembra-te de que precisamos todos uns dos outros, nenhum de nós é uma ilha, um eu autónomo e independente, separado dos outros". A arma mais eficaz na revolução que procuras é a ternura, porque tem o poder de desarmar.

Querida Leonor,
30 de Agosto, 2016
Já passaram dois anos desde que nasceu nesta família, que já estava composta e que no início não sabia como a iria encaixar. Se o puzzle era difícil para a família, para si foi muito fácil, encaixou e tratou-nos a todos como se fossemos a sua família. Começou por aprender o meu nome - mãe - e depois o nome do pai - pai - e mais tarde os dos seus irmãos.
É uma delícia ver a cara dos seus irmãos a vê-la fazer as coisas típicas dos dois anos e a alegria deles quando diz os seus nomes. Como eles gostam de ser procurados por si, enquanto a  ouvem ao longo do corredor, chamá-los, na versão ternurenta porque reduzida, que é só sua.
Não imagina o poder que tem, quando estamos cansados ou o dia não correu bem e você chega e diz - bêjinho - boacha - obigada. É uma verdadeira revolução de ternura!
Obigada Leonor

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