Ditadura

DESTAK | 08 | 12 | 2010   20.41H
João César das Neves | naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt
«E até não sei se a certa altura não é bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia». Esta frase foi dita há dois anos, num almoço da Câmara de Comércio Luso-Americana a 18 de Novembro de 2008, pela Dra. Manuela Ferreira Leite, na altura Presidente do PSD.
A declaração incendiou forte polémica. Desde o disparate rematado de as ver como apologia da ditadura, até à discussão sobre a sensatez de um candidato fazer análise política, tudo se disse. Os auto-proclamados sumo-sacerdotes da liberdade viram na frase os intuitos mais sinistros, confirman-do a necessidade da sua presunçosa vigilância. Aquilo que poucos fizeram foi reflectir no significado da afirmação, ou trabalhar para que ela não se tornasse verdadeira. Hoje vivemos as consequências dessa ligeireza.
Portugal tem século e meio de experiência democrática e, até 1974, os resultados que tinha para mostrar eram desanimadores. A podridão do Liberalismo e o tumulto da Primeira República pareciam provar que o país não sabia viver em democracia. Depois dessas experiências, para «meter tudo na ordem», houve, não seis meses, mas 50 anos de ditadura.
Felizmente as duas últimas décadas do século XX inverteram o quadro. Temos um sistema livre, estável e participado, como qualquer regime europeu normal. Provámos que sabemos viver em democracia.Mas essa prova tem de ser renovada todos os dias. A última década levantou crescentemente as dúvidas. Se calhar vamos mesmo ter seis meses de ditadura. Chama-se FMI.

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