Euforias
Público 2010-12-12 Vasco Pulido Valente
Segundo o PISA (Programme for International Student Assement), um programa da OCDE, os resultados dos alunos portugueses em "literacia" (?) em Leitura, Matemática e Ciências ficaram pela primeira vez próximos da média. Isto produziu uma euforia inexplicável. É certo que andámos muito tempo pelo fim da tabela, mas não se vê hoje grande motivo para celebrações. No Parlamento, houve uma festa em que toda a gente participou. Sócrates disse logo ao Diário de Notícias que o seu Governo será lembrado pela "aposta" (sempre esta reles palavra) que fez "na ciência e na educação" (e não, claro, pela bancarrota do Estado e do país). Falta agora o Presidente da República chorar em público. E, no entanto, mesmo nesta classificação, que varia de ano para ano e não indica um progresso sólido e seguro, Portugal continua muito atrás de muitos países da Europa.
De resto, o PISA avalia alunos de 15 anos, que têm ainda o fim do secundário e a universidade à frente. Claro que a base de partida conta. Só que, se não for seguida por um ensino superior de grande qualidade, não leva ninguém a parte alguma; e o nosso ensino superior é genericamente mau, desorganizado e pobre. Há em Portugal muito pouca investigação de reconhecida relevância e a vida académica praticamente não existe. Basta passar um dia em Harvard ou em Oxford para se perceber a diferença. O que não admira. As tradições da ditadura duraram muito para lá do razoável (e, em certa medida, ainda duram) e a élite, se a palavra se aplica, que substituiu a do "salazarismo" não se recomenda.
O que, de qualquer maneira, não importa muito. Ao contrário do que julgam os políticos desta democracia em que vivemos, um país não é rico porque é educado, é educado porque é rico. E se fosse necessária uma prova irrecusável desse melancólico facto, bastava olhar para as taxas de "abandono" e de "repetência" e para o número crescente de infelizes que tiraram uma licenciatura, um mestrado ou até um doutoramento para transitar imediatamente para o desemprego. A educação vale numa economia que precisa dela e a pode usar, não vale (ou vale menos) numa economia de baixa tecnologia, persistentemente atrasada e subdesenvolvida. As crianças de 15 anos que treparam com mérito na tabela do PISA não garantiram um futuro melhor para si próprias, nem anunciam dias melhores para Portugal.
De resto, o PISA avalia alunos de 15 anos, que têm ainda o fim do secundário e a universidade à frente. Claro que a base de partida conta. Só que, se não for seguida por um ensino superior de grande qualidade, não leva ninguém a parte alguma; e o nosso ensino superior é genericamente mau, desorganizado e pobre. Há em Portugal muito pouca investigação de reconhecida relevância e a vida académica praticamente não existe. Basta passar um dia em Harvard ou em Oxford para se perceber a diferença. O que não admira. As tradições da ditadura duraram muito para lá do razoável (e, em certa medida, ainda duram) e a élite, se a palavra se aplica, que substituiu a do "salazarismo" não se recomenda.
O que, de qualquer maneira, não importa muito. Ao contrário do que julgam os políticos desta democracia em que vivemos, um país não é rico porque é educado, é educado porque é rico. E se fosse necessária uma prova irrecusável desse melancólico facto, bastava olhar para as taxas de "abandono" e de "repetência" e para o número crescente de infelizes que tiraram uma licenciatura, um mestrado ou até um doutoramento para transitar imediatamente para o desemprego. A educação vale numa economia que precisa dela e a pode usar, não vale (ou vale menos) numa economia de baixa tecnologia, persistentemente atrasada e subdesenvolvida. As crianças de 15 anos que treparam com mérito na tabela do PISA não garantiram um futuro melhor para si próprias, nem anunciam dias melhores para Portugal.
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