Revoltas

DESTAK | 26 | 05 | 2010   21.24H
João César das Neves | naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

Hoje tende-se a exagerar a influência da economia. Existe a sensação que tudo depende de finanças, empresas e mercados e, sem se saber muito disso, cria-se o mito da presença esmagadora dessas forças. No sistema moderno a economia tem grande poder, mas muito menos que outros aspectos humanos, familiares, sociais, políticos, religiosos, culturais, etc.
Na terrível crise grega a enorme dívida nacional asfixia o país. Mas dizer que a crise é financeira é tolice. A questão decisiva pouco tem a ver com as exigências de credores.

O aspecto que assusta mesmo, e que foi também a causa do explosivo endividamento, é a desconfiança e conflitualidade sociais. A Grécia, que antes de entrar na CEE cresceu muito, foi desde então dominada por corporativismos, corrupção, incompetência, promessas não cumpridas.

Como consequência, o descontentamento e revolta sociais estão latentes há muito e grupos extremistas gozam de enorme influência. Todos têm razões válidas para desconfiar de todos os outros. Este clima social, não a factura financeira, é a principal tragédia grega.

Portugal tem uma dívida bastante inferior, embora em crescimento acelerado. Mas, acima de tudo, tem uma sociedade serena, confiante, benevolente. Ladramos muito mas mordemos pouco.
Vários analistas têm avisado que podemos vir a ter graves revoltas por causa da austeridade. Pode ser, mas isso nunca sucedeu nas antigas austeridades. Dizer isso é exagerar a influência da economia, muito menos influente que os aspectos humanos familiares, sociais, políticos, religiosos, culturais.

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