Buraco Moral
DESTAK | 05 | 05 | 2010 20.52H
João César das Neves | naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt
Perante o ataque especulativo contra a dívida portuguesa, Governo e oposição perceberam finalmente que a situação é grave. Pode-se criticar a lentidão, mas mais vale tarde que nunca. Quais foram então as medidas tomadas para provar ao mundo a nossa seriedade no combate ao défice? Especulou-se sobre muito mas na reacção inicial foram tocadas apenas duas áreas: o subsídio de desemprego para descer e as grandes obras públicas para manter.
O que mais espanta é a naturalidade com que se tomou esta atitude. Um Governo do Partido Socialista não encontra nada para cortar, num Orçamento de Estado que ocupa metade do produto nacional, a não ser os pagamentos aos desempregados?! Os responsáveis explicaram que as condições de atribuição dos apoios eram demasiado generosas, desincentivando a procura de emprego.
Mas se é assim então deviam ter sido alteradas logo, não quando os mercados duvidaram das contas. Afinal, o desemprego não começou a subir ontem.
Há várias explicações para este comportamento insólito, mas a mais assustadora é a mais plausível. A nossa classe política (e a oposição não se pode pôr fora) está tão estrangulada pelos interesses instalados que, perante a emergência financeira, vai atingir os mais fracos para não beliscar os poderes superiores.
Esta reacção, muito mais que a instabilidade nos mercados, revela a gravidade da nossa situação. Quando os socialistas não encontram ninguém para prejudicar senão desempregados, o país está mesmo num grande buraco. Não económico-financeiro, mas político-moral.
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