A viagem do Papa
Público, 20100508 Vasco Pulido Valente
Bento XVI vem a Portugal e bastou isto para provocar a fúria do laicismo indígena. Parece que o presidente da Câmara de Lisboa e, a seguir, o próprio Estado resolveram dar "tolerância de ponto" nos dias em que Ratzinger está em Lisboa e, calculo, no Porto e em Fátima, para os católicos o poderem ir ver. Em Lisboa, muitos prédios resolveram içar um enorme cartaz que anuncia estapafurdiamente a coisa. Por todo o lado se preparam cerimónias de vária espécie e se constituem grupos para celebrar e aclamar o Papa. E até, como de costume, especialistas da "ponte" já se preparam para um longo fim-de-semana (no Algarve, suponho). Vamos ter também uns dias de histerismo na televisão e nos jornais. Como ateu, devo confessar que esta agitação não me impressionou e nem sequer fixei bem o itinerário de Ratzinger e o calendário dos festejos.
Mas não partilho a indignação da gente - sem dúvida, meritória e culta - que vê na solicitude do Estado com o Papa uma agressão ao laicismo constitucional. Não se trata de saber se é ou não é católica a maioria dos portugueses. Tanto mais que nos tempos que vão correndo não deve ser muito fácil, nem para a Igreja, determinar com certeza o que é um católico. Pelo que tenho lido, o laicismo critica principalmente a utilização do espaço público para os festejos da visita e o patrocínio oficial que o Estado lhe deu, na forma de segurança policial e militar e na forma da famigerada "tolerância de ponto". Num país que admite e protege qualquer espécie de manifestação, não acho nem despropositado nem excessivo que se faça o mesmo com Bento XVI.
Claro que o Papa, por razões de fé ou de curiosidade, atrai um muito maior número de pessoas do que um sindicato, um partido, uma banda de rock ou, simplesmente, o congresso nacional das filarmónicas de província. Atrairá com certeza milhões. Não admira, por isso, que o Estado tome, como lhe compete, as suas medidas, nem que o Governo se queira associar à ocasião para beneficiar por reflexo da popularidade de Ratzinger. Sempre foi assim. O que há de novo é o azedume do laicismo moderno. Mais precisamente: do ateísmo moderno, que se julga científico e absoluto. A democracia tolera o mundo inteiro. Só não tolera a Igreja Católica e, em especial, Bento XVI, provavelmente porque nunca o leu. Ou talvez porque o leu.
Mas não partilho a indignação da gente - sem dúvida, meritória e culta - que vê na solicitude do Estado com o Papa uma agressão ao laicismo constitucional. Não se trata de saber se é ou não é católica a maioria dos portugueses. Tanto mais que nos tempos que vão correndo não deve ser muito fácil, nem para a Igreja, determinar com certeza o que é um católico. Pelo que tenho lido, o laicismo critica principalmente a utilização do espaço público para os festejos da visita e o patrocínio oficial que o Estado lhe deu, na forma de segurança policial e militar e na forma da famigerada "tolerância de ponto". Num país que admite e protege qualquer espécie de manifestação, não acho nem despropositado nem excessivo que se faça o mesmo com Bento XVI.
Claro que o Papa, por razões de fé ou de curiosidade, atrai um muito maior número de pessoas do que um sindicato, um partido, uma banda de rock ou, simplesmente, o congresso nacional das filarmónicas de província. Atrairá com certeza milhões. Não admira, por isso, que o Estado tome, como lhe compete, as suas medidas, nem que o Governo se queira associar à ocasião para beneficiar por reflexo da popularidade de Ratzinger. Sempre foi assim. O que há de novo é o azedume do laicismo moderno. Mais precisamente: do ateísmo moderno, que se julga científico e absoluto. A democracia tolera o mundo inteiro. Só não tolera a Igreja Católica e, em especial, Bento XVI, provavelmente porque nunca o leu. Ou talvez porque o leu.
Comentários
Pela sua verdade, bom senso e inteligência, parece-me que este ateu traz mais bem ao mundo do que muitos crentes.