Construir opinião pública pela verdade
Pe. NUNO ROSÁRIO VAZ VOZ DA VERDADE 12.11.2017
Recentemente fui convidado para participar nas Jornadas Diocesanas da Comunicação Social da Diocese de Angra, na Ilha do Pico, Açores. Foi, para mim, uma oportunidade para conhecer, pela primeira vez, um bocadinho daquele arquipélago; mas foi, sobretudo, uma oportunidade para me fazer reflectir sobre algumas questões relacionadas com a comunicação, nomeadamente a questão da verdade na comunicação.
Este é um tema que, não sendo de hoje, tem vindo a ser muito questionado e debatido nos últimos tempos e a Igreja não é, de modo nenhum, alheia ao facto. Diversas mensagens escritas, pelos últimos Papas, para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, já reflectem essa preocupação e, inclusive, a Mensagem do Papa Francisco para o próximo ano 2018, conforme já foi anunciado, vai centrar-se nessa mesma temática, tendo por base as denominadas ‘fake news’, ou seja, as notícias falsas.
Hoje em dia fala-se muito de um tempo de pós-verdade, em que não é a notícia, em si mesma, que interessa, mas toda a carga emocional que é colocada à sua volta e onde se esquece a verdade do acontecimento. Por outro lado, vamos vendo que as redes sociais cada vez mais têm um forte impacto em toda a sociedade e são capazes de construir ou destruir, mas são também cada vez mais fonte de informação para os meios de comunicação social, muitas vezes sem a preocupação ou o tempo necessário para confirmar dados antes de dar a notícia. Desta forma, os meios de comunicação vão sendo, também, meio de construção de uma opinião pública.
É neste sentido que vamos assistindo a uma comunicação que vai alinhando com correntes, poderes, teorias, ideologias, pondo de lado o que deveria ser o primeiro valor que é a defesa da vida, da humanidade, da preservação da vida, da ajuda a viver, em vez da ajuda a morrer. Esta é uma tendência que se vai verificando um pouco por todo o mundo e também em Portugal.
No passado sábado, 4 de novembro, a Federação Portuguesa pela Vida promoveu mais uma Caminhada pela Vida, em três cidades do país – Lisboa, Aveiro e Porto –, mobilizando, segundo a organização, cerca de 7 mil pessoas (6 mil em Lisboa, 600 no Porto e 500 em Aveiro). O assunto, que teve o apoio expresso do Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, e também do Papa Francisco, chegou às agendas das redações, por isso não houve falta de informação. Mas o silêncio “quase total” da iniciativa fez-se perceber na comunicação social. Esta é a reação da organização da Caminhada pela Vida que, em comunicado, lamenta este silêncio.
Não me cabe a mim interferir na agenda dos meios de comunicação, mas, todos reparamos que hoje em dia, com a ajuda das tecnologias, e já sem serem precisos carros satélite, se fazem diretos intermináveis nas televisões, por tudo e por nada, em manifestações públicas e até quase privadas, com algumas pessoas que no ângulo das lentes se tornam centenas. Por isso, estranho como é que três manifestações, em três lugares diferentes, não tiveram a cobertura mediática que poderíamos esperar.
José Maria Duque, coordenador geral da organização, no mesmo comunicado de imprensa, contrapõe a este facto “a vasta cobertura mediática concedida aos movimentos pró-eutanásia” e refere que “o constante silêncio sobre as atividades políticas da Federação Portuguesa pela Vida, assim como dos vários movimentos pró-vida, desvirtua o debate sobre estes temas e cria, junto do grande público, uma sensação, falsa, de aparente unanimidade”.
Na minha reflexão, questiono ainda como é que os números de participação na Caminhada pela Vida, em Lisboa, segundo a imprensa, foram de 500 pessoas, e a organização fala em 6 mil. Diz-me quem lá esteve que “mais de mil eram de certeza”! Os números falam e, por eles, também se faz a opinião pública.
Editorial, pelo P. Nuno Rosário Fernandes, diretor
p.nunorfernandes@patriarcado-lisboa.pt
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