A CULPA DA SOLIDÃO

José Luís Nunes Martins, Facebook, 2015.02.14

De quem é a culpa quando se está só? De quem está sem ninguém ou dos que dele não se aproximam? Será fácil dizer que são todos e, mais fácil ainda, que é apenas de quem se isola e fecha a porta. Difícil é mesmo assumirmos essa culpa. 

Hoje o respeito pelo espaço do outro serve de desculpa à falta de boa vontade. É preciso investir muito tempo e cuidado, uma vez que estas portas não se podem arrombar. É preciso sensibilidade e inteligência para saber o momento certo de bater à porta… e, depois, esperar. Sem pressas. Por vezes, muito tempo...

A solidão forçada é a terra dos medos, que crescem fortes e de forma desordenada, destruindo as esperanças. Há até quem, assim, se julgue despedido do seu próprio futuro. Neste silêncio frio, uma palavra, um sorriso, um simples gesto de simpatia podem significar um alívio da carga e até inverter a espiral de violência contra si mesmo. Nas solidões perdidas, a fragilidade humana e a dependência de afetos são muitíssimo maiores. 

Para quem está só e olha o mundo através das lágrimas, os dias são noites sem fim. As portas fecham-se, tantas vezes, apenas para que não entre mais mal. Para afastar os que julgam que com um toque de mágica tudo se faz paraíso. São os piores. Não querem sequer perceber… que a paciência envolve a resistência a um sofrimento constante, que ter esperança na angústia é quase impossível... que ouvir alguém sempre a dizer que a culpa da escuridão é apenas nossa magoa muito… tanto... Flagelo em cima de flagelo, porque, na verdade, a culpa não é só nossa, e reduzir tudo a uma só causa é não ter o respeito e a humildade de querer saber o que dói a quem está só. Se a solução fosse simples e dependesse apenas de nós já não estaríamos a sofrer.

Não somos sós. Podemos estar sós, mas a nossa essência precisa do outro. De um outro. Precisamos de partilhar o que somos e o que outros são. Quem se fecha em si mesmo por se julgar num plano diferente daquele onde estão os outros, condena-se a uma pobreza de espírito. Quem abandona os outros com medo das suas dores, afasta-se da felicidade. 

É preciso derrubar os muros entre mim e o outro. Todos. Tocar às portas dos que estão fechados, escondendo e contendo mil sofrimentos. Com paz, paciência e atenção, pedir ajuda quando não somos capazes. Procurando o olhar, as mãos e os ombros de quem nos pode ajudar a carregar a nossa cruz... 

Que ninguém condene ninguém à solidão. Nunca como hoje houve tanta gente isolada. Triste e injustiçada por um mundo que se julga a si mesmo confortável e no bom caminho… levar calor a quem está infeliz será tão difícil quanto importante. Para o outro e para mim mesmo. Ser quem sou passa por ir ao encontro do outro. Ao fortalecer o seu coração vazio, estou a criar um mundo melhor para ele e para mim. Se ninguém pode fazer tudo sozinho, a verdade é que se cada um fizer o que lhe é possível… tudo pode ser feito!

É essencial que eu seja capaz de sair de mim mesmo, deixando-me para trás, com humildade, reconhecer que o outro pode ter problemas mais sérios do que os meus, e ir lá, onde ele está, onde ele tem dores, respeitando-o, garantindo-lhe que não está só... mostrando-lhe que os seus sofrimentos podem ser indiferentes para o mundo, mas não para mim. 

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