Contágio
23 | 05 | 2012 19.12H
João César das Neves | naohaalmocosgratis@ucp.pt
Uma pergunta domina a actualidade: a queda da Grécia gerará contágio sobre Portugal? Infelizmente, nessa discus-são é costume esquecer os elementos básicos do problema. O facto decisivo é a quase inevitabilidade da queda grega. Não existem muitas hipóteses de se evitar aí uma derrocada político-social com o consequente choque económico-financeiro.
Ora este triste facto é também a razão decisiva para não existir o tão badalado contágio. Com poucas relações directas, os eventuais efeitos da situação grega sobre nós não se justificam por razões económicas. Isso significa que só podem acontecer num pânico irracional. Esse medo é compreensível no meio da incerteza internacional que potencia turbulência e criou tantas ameaças nos últimos anos.
Mas é preciso lembrar que ninguém entra em histeria com aviso. O pavor é um fenómeno súbito, inesperado, instintivo, que nunca acontece de forma antecipada e programada. Ou seja, há dois ou três anos uma ruptura grega teria efeitos devastadores por toda a Europa. Agora já toda a gente descontou o que havia a descontar, já provisionou todos os riscos previsíveis. Uma queda grega será muito dolorosa e séria para a Europa, mas dificilmente gerará contágios financeiros.
Dali surpresas só positivas, porque todos há muito esperam o pior. Isso significa que toda esta conversa sobre contágio é, não uma análise séria da situação, mas um palpite instintivo e retórico, opinião a metro que infelizmente domina boa parte da imprensa. Essa tese só mostra como a tolice infelizmente é sempre tão contagiosa.
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