A morte de Fidel
Público 2010.09.17 Vasco Pulido Valente
Os milhares de pessoas que Fidel matou ou prendeu não importavam. Nem o milhão e meio de emigrantes, que fugiu para Miami. Não importava sequer que Cuba se tivesse, de facto, transformado num enclave semicolonial, que a Rússia explorava para a seu benefício económico e estratégico. Fidel estava do "bom lado"; e estava contra a América. Isso bastava. Fidel nunca inteiramente perdeu o seu prestígio, depois de 1991, a classe média da Europa não se envergonhava de passar as férias nas "reservas" para ricos, com a infinita miséria de Cuba à volta. Agora, este espectáculo grotesco chegou ao fim. A desgraça que em quase meio século se criou não é salvável com paliativos.
O Estado, para o qual trabalhava 80 por cento da população, vai despedir 500.000 funcionários para começar e tenciona despedir mais tarde 800.000. A Central de Trabalhadores declarou: "O Estado não pode nem deve continuar a manter meios de produção e companhias da área de serviço com prejuízos na sua actividade e quadros inflacionados." Para epitáfio do "socialismo", não é nada mau. Daqui em diante a populaça que se arranje e faça por enriquecer. A esquerda portuguesa que anda por aí a prometer a defesa do Estado social e a jurar que sem ele não há democracia, não percebeu ainda ao que leva essa tão benemérita política: leva inevitavelmente a um colapso como o do "fidelismo". A realidade não se muda com demagogia. Ou, se preferirem, com bons sentimentos.
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