Delírio
DESTAK |15 | 09 | 2010 20.05H
João César das Neves | naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt
Oser humano tem uma extraordinária capacidade de adaptação. Cientistas dizem ser essa a característica determinante do sucesso da nossa espécie. Por isso é habitual que as populações vivendo em épocas de acontecimentos insólitos e chocantes, acabem por se habituar, deixando de reagir aos factos mais grotescos.
Num aspecto, Portugal está assim. O Governo anda apostado em desmantelar em duas legislaturas, por via legal, todo o edíficio cultural multissecular das relações familiares. Aborto, procriação artificial, divórcio, uniões de facto, casamento homossexual, educação sexual, tudo foi revolucionado em poucos anos, alinhando Portugal subitamente com as opções mais extremas. A arrogância foi tal que se usou a forma mais apressada e sumária, reduzindo ao mínimo o debate público e impondo à população os caprichos ideológicos de um grupito devasso.
Agora, em plena crise económica, o Governo minoritário decide tornar expedita a mudança legal de sexo. Passar de homem a mulher ou vice-versa será mais fácil que receber o subsídio de desemprego, cujas regras, aliás, o mesmo Governo apertou.
Perante isto, a atitude geral é de apatia. Primeiro porque tudo não passa de leis e debates de elites, às quais o povo português nunca ligou. O que interessa é a vida, que fica igual. Acima de tudo, porque o ser humano tem grande acomodação ao grotesco. Aliás, em épocas de delírio, não vale muito a pena reagir. Depois, como nas revoluções e regimes tirânicos, o delírio passa e as loucuras são corrigidas.
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