Descanso?
João César das Neves
DESTAK 03 09 2009 08.52H
Suponha que consegue juntar num mesmo local três dos ambientes mais insalubres, insuportáveis e inabitáveis do planeta. Combinando um deserto abrasador com um metropolitano cheio e um oceano feroz obtém-se o que se costuma chamar… praia. Tome-se um pedaço de areia estéril e escaldante, adicione-se enorme multidão afogueada e comprimida, junte-se-lhe ondas alterosas e temos aquilo onde muitos dos nossos concidadãos insistem em passar férias.
Quaisquer que sejam os gostos pessoais, temos de concordar que é difícil explicar esta preferência pelo turismo à beira-mar. Aliás, durante milénios nunca o ser humano mostrou tal tendência. Foi apenas no último século, onde a humanidade revelou os comportamentos mais aberrantes, que as praias começaram a aparecer cheias de pessoas seminuas a torrar ao sol do Verão.
As justificações são várias. Alguns apontam o regresso a costumes tribais. Outros notam que, suportando incómodos, pode-se ir trocando o sofrimento, eliminando um para cair no anterior. Quando o calor é insuportável dá-se um mergulho gelado, cujo arrepio convida a voltar ao sol quente, e assim sucessivamente. Como na política nacional, está-se sempre mal, mas prevendo o bem.
Por isso na praia o tempo é gasto a eliminar os inconvenientes de se estar ali. Passam-se horas a evitar engarrafamentos, tapar o sol, estender a toalha, pôr creme para escaldões, secar toalhas, tirar areia de todo o lado, etc., etc. Uma coisa que não há na praia é descanso.
Felizmente, depois vem um ano de trabalho para recuperar das férias.
João César das Neves naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt
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