Boa, Juan Luis

Miguel Esteves Cardoso
Público, 20090906

O que mais me choca é isto: um empresário em Espanha quis fazer um favor ao primeiro-ministro português, eliminando o programa de televisão que mais o irritava.
Se foi um bom favor ou um mau favor, pouco importa. Acho que foi um péssimo favor. E foi um favor cobarde. Prejudica Sócrates mais do que o ajuda. A cobardia do favor vem de haver sempre a desculpa, por parte do empresário espanhol, de que a intenção era boa.
Os representantes portugueses deste empresário espanhol tentaram avisá-lo de que esta não seria a melhor altura para fazer esse favor a Sócrates. Também eles, à maneira deles, quiseram fazer um favor a Sócrates, procurando protegê-lo das consequências da eliminação do programa a poucas semanas das eleições legislativas.
Os favores embaraçam muitas vezes os destinatários. Colam-se. São pegajosos e difíceis de remover, como tentar sacudir pastilha elástica de uma capota. São particularmente embaraçosos os favores que se fazem às pessoas mais poderosas do que nós, que não precisam tanto dos favores que lhes fazem como aqueles que lhos fazem precisam de favores da pessoa mais poderosa.
Não é apenas um atentado à liberdade: é um acto de censura. E não é apenas um acto de censura: é um acto de ingerência na política portuguesa por parte de uma empresa estrangeira. Encalacrou a Manuela Moura Guedes; encalacrou a TVI; encalacrou toda a gente que precisa de liberdade para trabalhar; encalacrou o candidato José Sócrates. Ah sim - e envergonhou Portugal inteiro.

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