A educação pública escolar não se deve avaliar? É isso?


MÁRIO PINTO                     OBSERVADOR                 09.02.2018


Se os resultados humilhassem as escolas «privadas», alguém imagina o ministro a desvalorizar os rankings e a valorizar estas escolas, com a argumentação romântica que usou para as escolas estatuais?
1. O actual ministro da Educação, que chegou a esse cargo sem ter nada que o indicasse como especialmente competente nesta tão delicada matéria, e obviamente o exerce com má avaliação da «opinião pública», achou importante que a opinião pública soubesse que não é “adepto” dos rankings escolares. Aliás na velha tradição dos seus antecessores que só cumpriram a lei da transparência democrática na publicação dos resultados dos exames escolares quando foram obrigados a isso pela autoridade competente.
2. Ora, como é que nós, cidadãos, podemos avaliar estas declarações ministeriais contra os rankings? Como de uma grande autoridade pedagógica, ou em ciências da Educação, claro que não, porque não vêm de pessoa com essa qualificação na matéria. Como de uma autoridade educativa de homem comum, é irrelevante, porque o exercício é feito por milhares de cidadãos que são iguais autoridades pessoais. Como de ministro da Educação que está em causa, na avaliação, pode parecer que não é adepto porque os resultados não são favoráveis ao seu clube (da escola estadual). Se os resultados humilhassem as escolas «privadas», alguém imagina o senhor ministro a vir desvalorizar os rankings e a valorizar estas escolas, com aquela argumentação romântica que utilizou para as escolas estaduais?
3. A avaliação dos resultados dos sistemas escolares públicos é uma prática internacional consagrada e respeitada, quer tecnicamente quer politicamente. É aliás uma coisa indispensável em democracia, porque se trata de políticas públicas. Dizer que não se é adepto disso é caricato e (quando se é governante) democraticamente suspeito.
Evidentemente, ninguém pode excluir a discussão acerca dos melhores e dos piores critérios que estão na base dos rankings. Mas uma coisa é discutir sobre isso, outra coisa é dizer que se não é adepto dos rankings. Aliás, se a questão é de critérios de avaliação, então o que o Ministro da Educação devia fazer e apresentar à opinião pública era o seu ranking, ou o seu contra-ranking. Ninguém tem em Portugal mais e melhores meios para o fazer. Por que espera o ministro? De opiniões pessoais dos governantes, que são manifestamente opiniões políticas e ideológicas, estão os cidadãos fartinhos e dispensam. O Governo, quando foi empossado, jurou cumprir a Constituição; não jurou cumprir a sua agenda ideológica.

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