Sócrates: a Justiça a mudar ou a exagerar?
Henrique Monteiro | Expreso
9:32 Sábado, 22 de novembro de 2014
Acompanhei a sua carreira de longe. Mudou-se para Lisboa quando foi eleito deputado, onde começou por ter uma vida discreta e modesta. Mais tarde, já no Governo Guterres, admirei-lhe a coragem e o modo direto como lidava com certos lóbis - recordo a coincineração, processo em que enfrentou inclusive históricos do PS, como Manuel Alegre.
Como primeiro-ministro tomou medidas importantes, mas as minhas relações com ele deterioraram-se quando pretendeu que eu cometesse uma falta deontológica, não publicando um artigo sobre a sua licenciatura. A partir daí, acho que conheci outro José Sócrates: arrogante, capaz de mentir descaradamente (ou talvez acreditando nas suas mentiras) e implacável.
Nada disto chega para prender alguém num aeroporto, sobretudo quando não vai a partir, mas a chegar. Haverá suspeitas de crime grave? Não sei quais. Do que se fala - tráfico de influência, branqueamento de capitais e corrupção - nada sei. Espero, pacientemente, que a Justiça dê explicações.
Há algo na Justiça a mudar - vejam-se as prisões de altos dirigentes do Estado ou as condenações de Maria de Lurdes Rodrigues ou Armando Vara - mas temo que haja alguém que na Justiça ande a exagerar - a condenação da ex-ministra da Educação parece-me manifestamente exagerada. Digo isto com as naturais reservas de não ser jurista.
Politicamente, no entanto, a detenção de Sócrates é complexa para uma parte do PS que se revia no seu estilo truculento. Do meu ponto de vista, um estilo que rompia com a melhor tradição socialista, mas que foi deixando apaniguados e seguidores. É também um enorme desafio à Justiça. Um erro cometido com Sócrates não é igual a um erro cometido com um cidadão qualquer. Tendo sido primeiro-ministro, a sua detenção é a esta hora notícia em quase todos os jornais internacionais e o seu processo vai ser seguido com atenção redobrada.
Perante isto, só posso desejar o que, normalmente pedem os advogados no final dos processos: que se faça Justiça!
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