Delírio

DESTAK | 28 | 01 | 2010 08.18H

João César das Neves | naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

O Conselho Económico e Social, composto pelos parceiros sociais, afirmou no seu parecer sobre as Grandes Opções do Plano 2010-2013, aprovado a 20 de Janeiro: «a listagem que é feita das intenções e das medidas, pela sua extensão e ambição, antes parece apropriada a uma situação de um país em forte crescimento económico e em que os recursos públicos aumentam também de forma rápida, o que está muito longe de configurar a previsível evolução da economia portuguesa nos próximos anos» (n.º 14). Dada a grave crise que o país atravessa, é difícil fazer crítica mais demolidora.

Também nas negociações entre a oposição e o Governo para viabilizar o Orçamento de Estado surgiu o mesmo delírio. Era necessário e urgente que os partidos se concertassem para propor as medidas duras que a situação exige e são indispensáveis ao equilíbrio nacional.

Em vez disso assistiu-se ao espectáculo deprimente do desfiar do rol de pedidos para satisfazer clientelas particulares, impondo gastos a troco do votos. Para se desculparem, diziam que as tais propostas seriam neutras na despesa. Isso é o mesmo que um homem com a casa a arder não fazer nada mas garantir que, ao menos, não deita combustível ao fogo.

O Orçamento entregue estes dias será analisado com cuidado. Mas mesmo antes de se conhecerem as contas podemos dizer que, face à grave situação financeira nacional, o debate preparatório não se centrou em medidas dolorosas e distribuição de custos.

Permaneceram os antigos debates ociosos entre procuradores de interesses instalados num delírio de um mundo a fingir.

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