Rir ou chorar?
Público 20120623 Vasco Pulido Valente
Agora, a mais de meio caminho, talvez seja a altura para falar das perplexidades que me trouxe o Euro 2012. Não que não tenha visto os jogos de Portugal com um relativo prazer e até com uma certa ansiedade; e não também que não se tenha já escrito centenas de páginas sobre o assunto. Mas fui assistindo com crescente espanto ao entusiasmo geral pela selecção, no meio de uma crise que dia a dia piora ou, pelo menos, dia a dia nos tira qualquer razão de conforto ou confiança. Não vale a pena perder muito tempo com as cenas de Marcelo (principalmente, para quem ainda se lembra das "bandeirinhas" de 2004). Só que, desta vez, reparei que houve dezenas de pessoas sérias que não escaparam ao comentário babado e patriótico e a uma espécie de apropriação "nacionalista" dos resultados do futebol.
Porque, no fundo, o que se festeja, quando se festeja o comportamento, aliás meritório da selecção? O que festeja o Presidente da República num telegrama ardente para Varsóvia? Ou o ministro Relvas, que aparentemente se apropriou de Portugal inteiro? Ou o secretário de Estado anónimo que por lá apareceu sem fim compreensível? E os milhares de indígenas que por aí soluçam, alguns (milagre!) com a bandeira monárquica na mão? Não festejam em princípio as façanhas de uma equipa portuguesa, porque a maior parte dos jogadores não vem do nosso campeonato; vem de Espanha, de Inglaterra, da Itália e mesmo da Turquia. A disciplina de vida, os métodos de treino, a própria concorrência e o dinheiro que lá ganham fizeram deles quem eles são hoje.
Em última análise, eles quase todos confirmam o escandaloso conselho do primeiro-ministro: o melhor é emigrar. Vejam os jornais desta semana: entre notícias de roubos, desfalques, corrupção, o futebol brilhava como o último refúgio da dignidade e da decência deste país. Mas ninguém perguntou por que motivo uma sociedade, capaz de organizar com inteligência e eficácia, uma actividade desportiva competitiva e dura, falha miseravelmente no resto. Que relação existe entre o estado do défice, da dívida e da economia e uma equipa de alta qualidade que pode, com um bocadinho de sorte, ganhar o Euro? Provavelmente nenhuma; e nós que por aqui berramos de alegria com o sucesso da selecção devíamos, em boa verdade, chorar com o nosso longo e repetido fracasso no essencial. Como nos compete.
Porque, no fundo, o que se festeja, quando se festeja o comportamento, aliás meritório da selecção? O que festeja o Presidente da República num telegrama ardente para Varsóvia? Ou o ministro Relvas, que aparentemente se apropriou de Portugal inteiro? Ou o secretário de Estado anónimo que por lá apareceu sem fim compreensível? E os milhares de indígenas que por aí soluçam, alguns (milagre!) com a bandeira monárquica na mão? Não festejam em princípio as façanhas de uma equipa portuguesa, porque a maior parte dos jogadores não vem do nosso campeonato; vem de Espanha, de Inglaterra, da Itália e mesmo da Turquia. A disciplina de vida, os métodos de treino, a própria concorrência e o dinheiro que lá ganham fizeram deles quem eles são hoje.
Em última análise, eles quase todos confirmam o escandaloso conselho do primeiro-ministro: o melhor é emigrar. Vejam os jornais desta semana: entre notícias de roubos, desfalques, corrupção, o futebol brilhava como o último refúgio da dignidade e da decência deste país. Mas ninguém perguntou por que motivo uma sociedade, capaz de organizar com inteligência e eficácia, uma actividade desportiva competitiva e dura, falha miseravelmente no resto. Que relação existe entre o estado do défice, da dívida e da economia e uma equipa de alta qualidade que pode, com um bocadinho de sorte, ganhar o Euro? Provavelmente nenhuma; e nós que por aqui berramos de alegria com o sucesso da selecção devíamos, em boa verdade, chorar com o nosso longo e repetido fracasso no essencial. Como nos compete.
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