Responsabilidade
Conversava ontem com um amigo sobre a dificuldade que se vê hoje em exercer a responsabilidade pessoal. Explico-me. Quando faço uma escolha, essa escolha tem consequências. E não é possível fugir delas.
Vinha isto a propósito de uma amiga comum, advogada que lida com muitos casos de divórcio, ter comentado, espantada, uma pergunta de alguém que, numa reunião, perguntava se podia ser ressarcido do investimento que tinha feito no namoro.
Infelizmente é uma mentalidade cada vez mais geral e que se espalha, como vejo quase diariamente nos meus alunos, incapazes de fazer escolhas com receio das consequências, ou que fazendo-as, acham injusto sofrer as consequências das suas próprias escolhas ou acções. Todas as acções são escolhas e é disso que, muitas vezes, não nos damos conta voluntária ou inconscientemente.
José Manuel Fernandes chama decente e honrado ao comportamento nacional que assume a nossa responsabilidade colectiva:
Há, no essencial, duas formas de ultrapassar esta nossa dependência de dívidas cada vez maiores. Uma é a forma decente e honrada de o fazer, que é reformarmos a nossa economia e os nossos hábitos de forma a torná-los sustentáveis. Isso implicará, naturalmente, alterar hábitos de consumo, adaptando-os às nossas possibilidades. A outra é a forma indecente e desonesta e passa por dizer aos nossos actuais credores que não pagamos e aos nossos futuros credores que queremos é subsídios. A tais exigências chamaremos "solidariedade" e embrulhá-las-emos em discursos sobre a "coesão social". Quem tiver dúvidas que leia o manifesto: está lá a retórica toda. (ler aqui)
Tenho muitos amigos que não vão concordar com esta opinião. Mas a minha pergunta é: como é que podemos esperar criar uma cultura de responsabilidade nas novas gerações se justificamos (ou pactuamos) com comportamentos que se recusam a aceitar as consequências da nossa irresponsabilidade colectiva passada?
O ideal de responsabilidade é o sim de S. Pedro cujo dia celebramos hoje. Levar a responsabilidade – resposta – até à doação da própria vida.
Não é nada fácil e até ele, diz a lenda, teve que ser ajudado no Quo Vadis a levar a sua responsabilidade até às últimas consequências. É esta sua proximidade às nossas limitações humanas que faz dele o meu santo preferido – também se calhar, porque os meus pais me deram o seu nome.
Pedro Aguiar Pinto
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