Um exemplo da história
Andei estes últimos meses à volta da figura do Condestável de Portugal, D. Nuno Álvares Pereira, agora santificado por Bento XVI e cujo nascimento em 1360 se comemora a 24 (ou 25) de Junho.
Foi uma incursão num período que conhecia bem no capítulo da teoria política e da história militar. E ao personagem conhecia-o há muito, pois, miúdo da instrução primária, o meu Pai deu-me "A Vida de Nun'Álvares" de Oliveira Martins.
Hoje, olhando Nun'Álvares com outra leitura e experiência, o que me continua a fascinar no homem - o santo é outra história - é a sua capacidade de decisão, a sua coragem de escolher coerentemente e avançar com todas as consequências.
Isto sem ser um cabeça quente, um desses militarões básicos, bravos fisicamente, atirados para a frente, mas que às vezes, com essa coragem pessoal extrema conduzem ao desastre. Tipo Custer em Little Big Horn, ou carga da Brigada Ligeira?
Não. Nun'Álvares tem uma coragem (que vem, como tudo nele, na sequência de uma convicção de que Deus está com ele porque a sua causa é justa) reflectida, escolhe bem as posições no terreno, prepara e dispõe os homens adequadamente, procura ler a cabeça e intenções do inimigo, escolhe o momento certo para dar batalha. Mas, uma vez formada essa decisão estratégica, não hesita.
Tem duas paixões - a paixão de Deus, que agora o levou aos altares, e a paixão de Portugal, que, há quase seiscentos anos (em 1411), levou à vitória na guerra da independência, com a assinatura em Segóvia do tratado de paz definitivo entre Portugal e Castela, depois de trinta anos de luta.
Quando tudo começou, em 1383, os dados objectivos eram contra Nun'Álvares e o partido português de D. João, Mestre de Avis. Tinham com eles o povo de Lisboa e do Porto, alguma arraia-miúda do Alentejo, filhos segundos e bastardos da nobreza, alguns burgueses, alguns bispos. Contra a legalidade senhorial, os chefes das grandes casas, os alcaides dos castelos e sobretudo o exército e a esquadra castelhanos.Se houvesse então sondagens e analistas políticos, tinham com certeza apostado quase em massa na vitória de D. João de Castela e da união dos reinos, que levaria ao desaparecimento de Portugal.
Era a racionalidade, era o pragmatismo.
Às vezes, o caminho mais difícil é também o da vitória. Pelo menos nas coisas grandes.
Professor universitário
Comentários
Parabéns por mais esta obra, muito oportuna. Não tive oportunidade de ir ao lançamento no Comando Geral da GNR, pois já estava no Sul, perto da minha terra (Faro).
Depois farei um comentário sobre o conteúdo. Espero que continue com os seus trabalhos de história e de memórias. Um abraço do
Cor. Manuel Bernardo 1-7-2009