Balanço da maioria
Termina no próximo domingo o período mais longo sem eleições da democracia portuguesa, quase três anos e meio desde as presidenciais de 22 de Janeiro de 2006 (o máximo anterior foi de dois anos e meio, Junho de 1991 a Dezembro de 1993). Esta época de excepcional estabilidade política teve uma maioria absoluta de um só partido. Mais importante o povo, devido ao susto da crise de 2004, esteve receptivo à necessidade de reformas duras. Ao contrário de antes, a opinião pública apoiou o Governo sempre que ele falou em medidas severas.
Está na hora do balanço desta extraordinária situação, que dificilmente se repetirá. Que se conseguiu em condições tão especiais?
Um sucesso importante foi obtido na segurança social. As reformas introduzidas, se não resolveram o desequilíbrio financeiro, aliviaram a pressão, adiando a ruptura por uns 20 anos. Se se confirmar, é um feito excelente.
No défice público, prioridade declarada, houve melhorias, mas o executivo terminará o mandato com um buraco maior que o que herdou. A culpa é da crise internacional, mas a fragilidade é nossa. A estratégia de subir de impostos sem descer despesas fez com que os ganhos iniciais se revelassem ilusórios.
Nos outros sectores a acção ficou muito aquém da retórica reformista. O Governo hesitou, mudou de rumo, fez compromissos. Geriu interesses sem mudar estruturas.
Gerou lutas com grupos por razões espúrias, sem conseguir reformas relevantes. Os bloqueios ao desenvolvimento são hoje tão graves como eram.
A maioria, pode dizer-se, foi desperdiçada. Será que vão pedir outra?
João César das Neves | naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt
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