Este 11 de Setembro

Público 2011-09-11 Miguel Esteves Cardoso

Há dias em que não se pode não dizer nada mas não se acha nada que se possa dizer. Como no dia em que morre o pai de um amigo. Ou hoje. Não há nada que se possa dizer que sirva de alguma coisa ou que não tenha já sido dito.

Mas não se pode falar noutra coisa. Nem que seja através do silêncio. Não está certo, pelo menos hoje, usar o décimo aniversário do 11 de Setembro para apresentar argumentos, lembrar lições, puxar a brasa à nossa sardinha, deste ou daquele lado deste oceano de mar ou de areia.

Hoje, aceitam-se as politizações, os fingimentos, os oportunismos, as simplificações, as demagogias, os esquecimentos - até as indiferenças. Hoje não conseguimos deixar de julgar e de fazer juízos (somos humanos), mas, ao contrário do que fazemos em todos os outros dias, podemos não exprimi-los e deixarmo-nos ficar calados (somos civilizados), por compaixão por todos aqueles que morreram, sem serem tidos nem achados, neste dia.

É difícil não dizer nada. Sobretudo será difícil não reagir a tudo o que hoje vai ser dito. Mesmo escolhendo, como escolhemos sempre, os canais pelos quais ouviremos falar deste dia. Falarão noutros mortos. Falarão em vidas que não se teriam perdido se não fossem as reacções ao 11 de Setembro. Até nas vidas que, por causa destas, se pouparam.

Hoje deixemos dizer tudo. Poderemos talvez prestar um bocadinho menos de atenção, ou dar um maior desconto, ou desconfiar menos do que nos apetece.

Mas não digamos nada.

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