Lição de coisas
Público, 20100703 Vasco Pulido Valente
O que se via na horrível pobreza do país, na inaptidão e na fraqueza da classe média e numa guerra colonial sem sentido ou saída. E o que se tornou a ver na "revolução", que, finalmente, e a custo, acabou com essa guerra. Seguimos com tranquilidade e ordem para uma vida nova? Claro que não. Voltámos, como era de esperar, a 1930 e à ilusão de um socialismo radical e libertador. Além do oportunismo e do medo, a aventura do PREC foi também o regresso (admito que delirante) a um tempo perdido. De resto, tirando o PC e, de certa maneira, o PS, não existiam partidos, como não existiam políticos, fora a gente da clandestinidade e da conspiração, que nunca governara nada nem ninguém. O entusiasmo não durou. As ruínas do entusiasmo, essas, para nosso mal, duram ainda.
Ademocracia que o dr. Mário Soares conseguiu milagrosamente extrair do caos não criou por si mesma um Portugal moderno. E a "normalidade" económica, embora frágil, só chegou mais tarde, na revisão constitucional de 1989. Com dinheiro de Bruxelas (aliás, pouco), o dr. Cavaco, "bom aluno" que é, seguiu o caminho de "reconstrução" (ou, no nosso caso, de pura "construção"), que a Alemanha, a França, a Itália, a Holanda ou a Bélgica tinham começado em 1946-47: agora, infelizmente, em condições muito piores. Não nos levou longe. A paz social, o pleno emprego, o Estado-providência, o crescimento e a "modernização" nem sequer se aproximaram do "modelo europeu". E o Portugal de hoje é o que pode ser, se pensarmos na longa miséria de onde partiu. Como dizia o outro, as coisas são o que são.
Comentários