O meu novo casamento

Público, 20100712 Miguel Esteves Cardoso

Este mês casei-me com o PÚBLICO que, como disse o meu amigo José Cardoso, fez de mim uma mulher honesta.

Sou muito feliz com o PÚBLICO, meu marido em caixa alta. É bom pertencer ao PÚBLICO e fazer o que ele me diz e ele deixar-me fazer o que quero.

Foi longo e picante o namoro. Mas até a mais eufórica das noivas sabe que, a certa altura, começa o casamento em si. Devagarinho, vão-se revelando, de parte a parte, hábitos irritantes e manias. Mas também inesperadas graças e doçuras. Havendo amor, fazem-se pequenos pactos, trocam-se aceitações e abdica-se de importâncias.

Tenho a sorte de saber, graças à Maria João, como cresce um bom casamento. Nos primeiros três anos a ordem dos pronomes é eu, tu, nós. No deslumbramento do tu, o eu começa a ser menos eu, mas o nós quase não existe: só eu e tu e "que giro ou que mau tu seres isto e eu ser aquilo!" Passados três anos, já há um nós. É um nós para além da soma do eu e do tu. É um casal de que gostamos e de que dependemos. Embora o eu ainda tenha medo. E fica: eu, nós, tu.

É duro o tu ficar em último mas logo arranja companhia quando o nós passa para primeiro e fica: nós, eu, tu. Depois, para aí no nono ano, troca de lugar como o eu e fica: nós, tu, eu. É esta a fase de casamento em que estou. Não sei o que vem a seguir mas suspeito que não ficarão na mesma linha e que será, por cima, nós e, por baixo, tu e eu. Deus me livre que seja assim com o PÚBLICO. Mas caso com ele à mesma.

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