Pobres alemães
Público 2011-11-09 Miguel Esteves Cardoso
As consequências são xenofóbicas. Culpam-se os gregos, os portugueses e os irlandeses. Fala-se, com um etnocentrismo que foi desmascarado há quase cem anos por antropólogos, em culturas de batota (a grega), de preguiça (a portuguesa) e de rancor pós-colonial (a irlandesa).
Quando a cultura nacional é amada - como é o caso da italiana -, individualiza-se a questão. A culpa é do velho sátiro, Berlusconi. Se cedermos a esta propaganda ordinária, que vai contra todas as nossas cumplicidades de pobres contra os ricos, entramos no jogo da ganância dos credores. A pergunta que devemos fazer é a seguinte: "Quanto dinheiro é que cada um de nós pediu emprestado?" Ou, melhor ainda: "Que bela vida foi a nossa, graças ao dinheiro que pedimos emprestado?".
Os gregos não são a Grécia. Nem sequer gregos são: cada grego é um indivíduo, como é qualquer português ou alemão. Os nossos bancos não somos nós. Os nossos governos não somos nós. A União Europeia não somos nós todos juntos. Era o que faltava que agora pusessem os povos uns contra os outros: os alemães não têm culpa. Nós também não. Só alguns.
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