Nobelmania

DESTAK 15 | 10 | 2009 08.20H

João César das Neves | naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

O prémio Nobel da Paz de 2009 foi atribuído a Barack Obama «pelos seus esforços extraordinários para reforçar a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos». É um disparate evidente, não por razões políticas ou ideológicas, mas cronológicas: recebe-o ao fim de apenas 10 meses no poder.

É altamente discutível se, como diz o comunicado, Obama conseguiu «um novo clima na política internacional» e «uma visão e um trabalho por um mundo sem armas nucleares». O que não há dúvida é que, não só não teve tempo para fazer nada de concreto, mas ainda lhe faltam mais de 3 anos neste mandato e talvez um segundo. O comité Nobel arrisca-se a perder a face se daqui a uns tempos Obama tomar posições semelhantes às dos seus antecessores, de que esses juízes tanto discordaram. Mas já lhe deram o diploma antes mesmo de ele enfrentar os primeiros testes.

Esta imprudência é inaudita pois, ao contrário do que pretende a justificação no site Nobel, o prémio da paz raramente foi dado a políticos de topo no activo. Em 90 atribuições só existem oito presidentes nacionais em funções (T. Roosevelt em 1906, Wilson 1919, Sadat 1978, O. Arias 1987, Gorbatchev 1990, F. de Klerk 1993, Arafat 1994 e Kim Dae-jung 2000) e três primeiros-ministros (W. Brandt em 1971, M. Begin 1978 e Y. Rabin 1994). Todos tinham duas coisas que Obama não tem: vários anos de poder e um resultado que, mesmo controverso, ficou na história.

Desta forma o comité Nobel participa na Obamania, cujo pior efeito é tornar muito difícil a acção concreta de Obama.



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