Eleição e causas
João César das Neves |
naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt
Muita gente ficou triste com as eleições. É normal, pois sem maioria, a maioria dos votantes perdeu. Os mais desanimados ou mais felizes são, porém, os que vêem a eleição centrada num único interesse, que pensam que só conta a causa que os apaixona.
Muitos professores, por exemplo, queriam derrotar o PS por razões de classe e tomaram o resultado exclusivamente desse lado.
Também alguns católicos consideram que as percentagens mostram a posição do povo sobre a defesa da vida e família. É igual para os defensores do TGV, homossexualidade ou agricultura.
Isso é um erro. A eleição foi do Parlamento e os cidadãos votaram pensando na totalidade dos aspectos. Escolhem os que se pensam mais capazes (ou menos maus) para lidar com salários, emprego, casa e outras coisas genéricas. O resultado dos votos nada nos diz sobre questões particulares, por sérias que sejam.
Isto é também um aviso para o futuro Governo. Ele deve actuar para o bem nacional, sem se sentir legitimado a impor caprichos ideológicos laterais ao sufrágio. Acabada a euforia eleitoral, é tempo de esquecer chavões e abraçar o bom senso.
Por exemplo, a Juventude Socialista fez um cartaz insólito com uma frase do adversário. Citando Ferreira Leite dizia "A família (...) tem como objectivo a procriação", rematando com o slogan: «Dia 28 acorda no século XXI». Depois dos ataques do anterior Governo PS contra a família, a ironia é amarga. Se o próximo Governo também desprezar a procriação, Portugal ainda acorda no século XXI, mas já não chega ao XXII.
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