Oscar Wilde morreu sendo católico

O escritor e ensaísta Paolo Gulisano oferece detalhes de sua vida
Com informação de Antonio Gaspari

ROMA, domingo, 5 de julho de 2009 (ZENIT.org).- Apesar de sua fama, muitos aspectos da personalidade de Oscar Wilde (1854-1900) são pouco conhecidos pelos seus seguidores.
Este escritor irlandês, autor de célebres obras como “O retrato de Dorian Gray” e de contos como “O rouxinol e a rosa” e “O gigante egoísta”, foi ao mesmo tempo um buscador inesgotável do Belo, do Bom, mas também daquele Deus a quem nunca se opôs e a quem abraçou plenamente após a dramática experiência da prisão.
O genial dramaturgo, íco ne do mundo gay, morreu em Paris em comunhão com a Igreja Católica, assim como havia escrito vários anos antes de sua partida: “O catolicismo é a religião na qual morrerei”.
Paolo Gulisano, escritor e ensaísta, especialista no mundo britânico e autor de diversos livros sobre Tolkien, Lewis, Chesterton e Belloc, publicou recentemente em italiano Il Ritratto di Oscar Wilde (“O retrato de Oscar Wilde”) pela editora Ancora.
Trata-se de uma radiografia do escritor que representa toda sua complexa personalidade, descreve alguns dos cenários nos quais recitou no grande teatro da vida, de suas paixões, dos seus interesses, do seu imaginário, da sua atenção aos problemas sociais e do seu sentimento religioso.
Gulisano, em diálogo com Zenit, assegurou que Wilde “representa um mistério que não f oi descoberto ainda, um homem e um artista da personalidade poliédrica, complexa, rica”.
“Não somente um inconformista que queria surpreender a sociedade conservadora da Inglaterra vitoriana, mas também um lúcido analista da Modernidade, com seus aspectos positivos e sobretudo inquietantes”, diz o escritor.
Por exemplo, sua novela “O retrato de Dorian Gray” narra como o homem moderno procura desesperadamente uma eterna juventude, com um profundo medo da morte, a qual se propõe a vencer ao pelo menos enganar.
O autor permite ver em Wilde uma alma que vai além dos salões de Londres, “um homem que, atrás da máscara da anormalidade, perguntava-se e convidava a fazer-se a pergunta sobre o que era correto ou errado, verdadeiro ou falso”.
O autor destaca também outros valores de Wilde: “Amou profundamente sua esposa, com quem teve dois filhos, a quem sempre amou ternamente e a quem, desde crianças, dedicou algumas das mais belas fábulas que já existiram, como “O gigante egoísta” e “O príncipe feliz”.
Gulisano se refere também ao processo judicial no qual foi acusado devido a seus atos homossexuais. Wilde foi condenado a realizar trabalhos forçados durante dois anos. “O processo foi uma confusão à qual chegou por ter demandado por difamação o marquês de Queensberry, pai do seu amigo Bosie – com quem teve uma íntima amizade –, que o acusou de agir como sodomita.”
“À frente do processo de Wilde esteve o advogado Carson, que odiava os irlandeses e os católicos e sua condenação não foi o resultado somente da homofobia vitoriana”, esclareceu Gulisano.
A conversão de Wilde
O autor indica que a busca espiritual de Wilde “pode também ser vista como um longo e difícil itinerário de conversão ao catolicismo”.
Gulisano assegura que o escritor pensou e inclusive adiou por muito tempo sua adesão à fé católica. Também fez alusão a um dos seus paradoxos. “Wilde afirmou um dia a quem lhe perguntava se não estaria se aproximando perigosamente da Igreja Católica: ‘Eu não sou um católico, eu sou simplesmente um papista apaixonado.”
“Por trás da batuta, está a complexidade da vida, que pode ser vista como uma longa e difícil marcha de aproximação do Mistério, de Deus”, indica o escritor.
Inclusive amigos próximos de Wilde também acabaram convertendo-se. “Amigos como Robbie Ross, Aubrey Beardsley e inclusive John Gray, quem o inspi rou para a figura de Dorian Gray”, esclarece.
Gray entrou no seminário em Roma, foi ordenado sacerdote e exerceu seu ministério na Escócia, contando com a estima de grande parte dos seus paroquianos.
“Também o filho menor de Wilde se tornou católico”, recorda o escritor.
Gulisano conclui seu diálogo dizendo que, apesar da cultura secularizada e anticatólica da Inglaterra, em autores como Newman, Chesterton, Tolkien e no próprio Wilde, pode-se encontrar “uma vacina útil contra os males espirituais da nossa época”.

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